Título: Decisão provoca crítica e frustração
Autor: Rehder, Marcelo., Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2007, Economia, p. B11

Interrupção dos cortes da Selic é mal recebida por empresários e sindicalistas, mas há quem veja prudência

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de interromper o processo de redução da Selic, mantendo a taxa básica de juros em 11,25% ao ano na reunião que terminou ontem, foi criticada por representantes da indústria, do comércio e sindicalistas.

O presidente da Federação e do Centro das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp), Paulo Skaf, lamentou a decisão. ¿Mais uma vez nos decepcionamos com a falta de entendimento da realidade demonstrada pelo Copom¿, disse Skaf . ¿Isso custa caro ao setor produtivo e à sociedade brasileira.¿

Skaf acrescentou que, embora lenta, a seqüência de cortes que vinha sendo promovida ¿dava uma visão futura da taxa de juros menos atraente para o investimento especulativo e indutor de valorização cambial¿. Ele ponderou que estudos da entidade mostram que não há pressão de demanda sobre os preços e, portanto, havia condições para prosseguir com os cortes.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse que a decisão é frustrante e danosa à indústria. ¿É especialmente frustrante, dado que o aumento da inflação nos últimos meses ocorreu por pressões pontuais e não de forma disseminada, sem ameaçar, portanto, o cumprimento da meta de inflação.¿

O presidente da CNI também manifestou preocupação com o crescimento do gasto público, que cresceu ¿em velocidade muito superior à expansão da economia¿, o que considera insustentável. ¿Essa situação de descompasso entre as políticas monetária e fiscal lança o ônus da estabilidade à política monetária¿, comentou.

Num discurso oposto ao da Fiesp e da CNI, a indústria automobilística, que este ano vai bater recordes de produção e vendas, vê com bons olhos a prudência do Banco Central. ¿O BC precisa tomar cuidado com a redução da taxa Selic para manter um equilíbrio entre a inflação e o crescimento da economia¿, disse o presidente da General Motors do Brasil, Ray Young. ¿Quero taxas de juros mais baixas, mas não quero inflação.¿

Para a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), a interrupção no processo de redução da Selic mostra a necessidade de diminuir e garantir eficiência dos gastos públicos e também de uma reforma fiscal, que reduza os gastos públicos. A entidade considera que os resultados da inflação, combinados com a expansão sustentável da oferta nacional, dão legitimidade à continuidade dos cortes na taxa de juros.

Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Alencar Burti, a decisão do Copom foi ¿frustrante¿. Segundo ele, havia condições para uma nova redução dos juros. ¿Lamentamos a manutenção da taxa e esperamos que isso represente apenas uma pausa no processo de redução, uma vez que o alto custo dos juros com a dívida pública não está sendo considerado.¿

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, considerou nefasta a manutenção da Selic e disse que a medida vai causar um efeito psicológico negativo no setor produtivo. ¿Mantendo os juros básicos num patamar proibitivo, o governo sinaliza com um cenário impróprio para o setor produtivo, gerador de novos postos de trabalho¿, disse o sindicalista, que também é deputado federal (PDT/SP).