Título: Fazenda e BC querem criar fundo de reservas
Autor: Froufe,Célia., Castellani,Marisa., Xavier,Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2007, Economia, p. B14

Informação foi confirmada pelo ministro Guido Mantega; segundo ele, fundo deverá receber valores que excedam o teto de US$ 180 bilhões

O Ministério da Fazenda e o Banco Central estudam a criação de um fundo soberano com o objetivo de aproveitar o grande volume de reservas internacionais - que na segunda-feira estavam em US$ 162,426 bilhões. A informação foi dada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao Broadcast ao Vivo, serviço informativo da Agência Estado, que ontem comemorou sua milésima entrevista. ¿Deveremos anunciar esse fundo dentro de 30 dias¿, disse o ministro ao Estado.

Mais tarde, durante almoço no Grupo Estado, o ministro acrescentou que, em sua avaliação, o Brasil precisaria acumular aproximadamente US$ 180 bilhões em reservas para a obtenção do grau de investimento e o que excedesse este valor poderia ser direcionado ao fundo. ¿Não chegamos ao limite (das reservas). Elas continuarão crescendo nos próximos anos¿, afirmou. ¿É uma necessidade, uma imposição, uma boa utilização dessas reservas¿, acrescentou.

Mantega explicou que certos princípios serão observados para a implantação desse fundo, que terá de manter liquidez e segurança. ¿Não podemos sair por aí comprando títulos de segunda linha, mas vamos continuar comprando títulos de primeira linha totalmente seguros e que farão com que as reservas continuem sendo um fiador da baixa vulnerabilidade de que hoje o Brasil goza¿, ressaltou.

O ministro disse ainda que não há um desenho definitivo desse fundo que está sendo estudado em conjunto com o Banco Central, mas descartou a possibilidade de ele ser nos mesmos moldes existentes hoje na China. ¿A diferença deste fundo com o da China é que aquele país compra empresas e faz investimentos¿, disse, acrescentando que o brasileiro deverá utilizar uma pequena parcela em diversificação de aplicações financeiras.

SEM AÇÕES

O ministro descartou a possibilidade de haver investimentos em ações, mas acrescentou que compras de debêntures são viáveis. ¿Devemos continuar com aplicações financeiras, que indiretamente poderão alavancar investimentos produtivos.¿

Ele enfatizou que os recursos não serão aplicados em infra-estrutura, mas exemplificou como poderá ser uma forma de diversificação, citando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). ¿Pode-se comprar um título do BNDES e o BNDES poderá utilizar recursos para estimular investimentos fora do Brasil¿, exemplificou.

Apesar de o fundo continuar concentrado em ativos financeiros, Mantega destacou que não há necessidade de os investimentos serem restritos aos treasuries (títulos do Tesouro americano). ¿Aliás, perdemos com toda essa desvalorização do dólar¿, salientou.

Dessa forma, o fundo não deve causar despesa primária. Essas aplicações serão restritas a uma parte pequena do fundo, cuja parcela ainda não foi definida. ¿Mas precisamos garantir o investment grade, então teremos de continuar com o crescimento do volume de reservas¿, destacou. Antes de ser anunciado, o projeto deverá passar pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.