Título: Ataque mata 126 na volta de Benazir
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2007, Internacional, p. A16

Após exílio de oito anos, duas explosões atingiram caravana da ex-primeira-ministra paquistanesa, que saiu ilesa

Pelo menos 126 pessoas morreram e 320 ficaram feridas ontem à noite em Karachi na explosão de duas bombas perto do caminhão que transportava a ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto, que voltou horas antes ao Paquistão, encerrando oito anos de auto-exílio. A ex-líder escapou ilesa do atentado. No momento do ataque, ela aparentemente não estava numa estrutura de vidro à prova de bala instalada em cima do caminhão, mas na parte interna, blindada, do veículo, que ia em caravana para o mausoléu de Mohamed Ali Jinnah, fundador do país. Centenas de milhares de pessoas seguiam a caravana ou saudavam Benazir em sua passagem pelas ruas de Karachi.

Militantes ligados à rede Al-Qaeda, furiosos com o apoio de Benazir à luta antiterror dos EUA, tinham ameaçado assassiná-la. As autoridades haviam intensificado a segurança na cidade e instalado sistemas eletrônicos de interferência para impedir a detonação de bombas por controle remoto.

Uma explosão de pequena intensidade - supostamente de uma granada - foi seguida por outra, de grande impacto, diante do caminhão que transportava Benazir. O ataque destruiu os vidros do veículo e incendiou duas viaturas policiais que escoltavam o comboio. O chefe de polícia de Karachi, Azhar Faruqui, disse que a ex-premiê foi retirada da área como parte de um plano de contingência preparado para seu retorno. Fontes da polícia davam informações contraditórias, dizendo que as explosões tinham sido causadas por carros-bomba ou por suicidas. A última versão era a de que um único suicida teria sido responsável pelas duas explosões.

Ignorando as ameaças de assassinato de radicais islâmicos e a sugestão do presidente paquistanês, Pervez Musharraf, de que adiasse seu retorno, Benazir chegou ontem às 14h15 ao aeroporto de Karachi em um avião procedente de Dubai, nos Emirados Árabes, onde viveu nos últimos anos. Benazir, de 54 anos, chorou ao ser recebida por cerca de 150 mil partidários. ¿É ótimo estar de volta. É um sonho que se tornou realidade¿, declarou, em meio a centenas de repórteres e fotógrafos. ¿Eu contei as horas, os minutos e os segundos para voltar a ver esta terra e este céu¿, disse ela à TV AP. Benazir afirmou que lutará pela democracia e para ajudar o país, de 160 milhões de habitantes, a derrotar o extremismo que tornou o Paquistão conhecido como um reduto do terrorismo internacional. O país é o principal aliado dos EUA na região em sua luta contra o terror.

Benazir, que tinha deixado o Paquistão em 1999 para evitar ser presa por corrupção, retornou num momento de grande incerteza política. Com as eleições parlamentares previstas para janeiro, ela espera lançar sua campanha para um terceiro mandato como primeira-ministra. Mas analistas acreditam que Benazir pôs sua popularidade em risco ao acertar uma aliança com o impopular Musharraf. Em troca do apoio ao presidente, a ex-líder quer a aprovação de uma emenda constitucional acabando com a proibição de um terceiro mandato como chefe de governo e garantias de eleições justas.

Benazir já foi anistiada por Musharraf das acusações de corrupção após ele ter sido reeleito presidente no dia 6, com o apoio do Partido Popular do Paquistão, da ex-premiê. Mas a Suprema Corte do país ainda está examinando a legalidade da anistia e da reeleição de Musharraf. A Suprema Corte informou ontem que deve divulgar dentro de no máximo 12 dias seu veredicto sobre a elegibilidade de Musharraf. AP, REUTERS, AFP E NYT

ALTOS E BAIXOS

1979 - Zulfikar Ali Bhutto, pai de Benazir, é executado pelo assassinato de um opositor, dois anos após ser deposto num golpe militar

1988 - Benazir torna-se premiê

1990 - Seu governo é dissolvido por corrupção

1993 - Começa 2.º mandato

1996 - Seu governo é dissolvido por nepotismo

1999 - Benazir, condenada por corrupção, parte para o exílio