Título: Decisão do BC não muda política econômica, diz Lula
Autor: Laier, Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2007, Economia, p. B4
Governo vem trabalhando para que o Banco Central tenha autonomia e 'as coisas têm dado certo'
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de fazer uma pausa no processo de redução da taxa básica de juros 'não modifica em nada' a política do governo na área econômica. 'Há muito tempo o governo vem trabalhando para que o Banco Central tenha a autonomia necessária, e as coisas deram certo até agora. O fato de o Banco Central achar que não é o momento de reduzir (a alíquota da Selic) em 0,25 (ponto porcentual) não modifica em nada', afirmou.
A uma pergunta se tinha ficado decepcionado com a decisão do Copom, Lula respondeu: 'Não é que eu não gostei muito. Eu disse numa entrevista que, se o Meirelles (Henrique Meirelles, presidente do BC) cortar ou não cortar, ele dá a explicação para a sociedade brasileira'.
O presidente acrescentou que a taxa pode ser reduzida em um mês ou em outro. 'O que não vamos abdicar é de uma política séria de controle da inflação. Eu sei que, quando a inflação volta, quem paga o pato é a parte que mais precisa.'
A uma pergunta se o governo poderia rever a estimativa de expansão da economia, Lula disse que quer mais de 5%. 'É o minimum minimorum (o mínimo do mínimo) que o Brasil pode crescer.' E discordou da previsão do mercado de que o processo de queda da Selic teria sido interrompido. 'Quem está falando nem sempre acerta. Há uma diferença enorme entre o comentário de uma pessoa e o que acontece na política real.'
Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a decisão foi apenas uma 'parada técnica', movida pela preocupação com a demanda interna e com os problemas no mercado financeiro internacional. 'Mas temos condições para continuar com queda nos juros.'
Na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que se encontra em Washington para a Reunião de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), há mais espaço para a queda da Selic, e o Copom vai retomar os cortes quando achar conveniente. Segundo Mantega, 'a economia não vai parar de crescer por causa dessa interrupção'. 'Do ponto de vista macroeconômico, essa interrupção de queda não tem nenhuma repercussão prática.'
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que participou ontem da entrega do prêmio 'As Melhores da Dinheiro', da revista IstoÉ Dinheiro, deu a entender em seu discurso que a decisão do Copom causou certa frustração, mas mostrou que o caminho é esse. 'Não há dúvidas que no Brasil nós precisamos levar a sério não só os problemas como também precisamos levar a sério a ansiedade por crescimento, por normalização, por juros mais baixos, padrões internacionais.'
'Tudo isso é muito sério, e eu levo isso muito a sério', acrescentou. Meirelles ponderou que 'nós temos de fazer o trabalho certo para que os resultados apareçam também de maneira séria e sustentável, e isso é que é importante para o Brasil'.
Também presente ao mesmo evento, o presidente da República em exercício José Alencar baixou o tom, mas não deixou de criticar a decisão. Alencar observou que o Copom é um órgão eminentemente técnico e tem a sua forma de trabalhar. Mas ressalvou: 'Acho que não podemos, de forma alguma, pagar uma taxa desnecessária'. Segundo Alencar, a Selic caiu de 25% para 11,25% ao ano, 'o que não é pouco'. 'Mas ainda continua muito alta quando comparada às taxas praticadas no mercado internacional.'
COLABORARAM FABIO GRANER, NALU FERNANDES e MARCELO REHDER