Título: Dólar fica abaixo de R$ 1,80 após 7 anos
Autor: Laier, Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2007, Economia, p. B4
Manutenção dos juros em 11,25% reforçou entrada de capital externo
O dólar fechou ontem com cotação em queda frente ao real, abaixo de R$ 1,80 pela primeira vez em sete anos e interrompendo um período de cinco pregões sem recuar.
A decisão de quarta-feira do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros, a Selic, inalterada em 11,25% ao ano, após a reunião de terça e quarta-feira, reforçou o cenário favorável às operações de arbitragem com a moeda brasileira, uma vez que mantém elevado o diferencial entre os juros no Brasil e no exterior. A situação favorece o ingresso de capital externo no mercado doméstico e pressiona a queda nas cotações.
A moeda americana fechou ontem cotada a R$ 1,786, no valor mínimo alcançado ao longo do dia, com queda de 1,92%. A cotação representa o menor valor desde 31 de julho de 2000, quando o dólar custava R$ 1,783. A queda em porcentagem ontem foi a maior em um dia desde o dia 18 de setembro, quando a moeda americana recuou 2,24%.
De acordo com o estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, o fato de o Banco Central (BC)demonstrar um comprometimento muito grande em trazer a inflação para baixo indica uma política monetária apertada, o que leva à expectativa de juro mais elevado.
'E isso mantém o fluxo positivo de capital para o País via operações de carregamento do real em decorrência do diferencial de juros interno e externo e da expectativa de balança comercial mais forte', diz.
POLÍTICA APERTADA
O especialista explica que, ao adotar uma política de juros mais apertada para conter o nível de atividade econômica e evitar eventuais pressões inflacionárias, o BC contrai também as importações. Isso ocorre porque a taxa de juro mais elevada desaquece a demanda interna e cria a expectativa de um superávit comercial mais forte mais adiante.
Além disso, a atitude do Copom de decidir por uma pausa no ciclo de cortes da taxa Selic iniciado em setembro de 2005 transmite tranqüilidade ao mercado, pois reforça a independência política da autoridade monetária, complementou Lintz.
Ao mesmo tempo, a demonstração de que o BC está preocupado com a inflação sinaliza que a autoridade monetária não se esforçará para evitar a depreciação do dólar, mantendo o preço baixo da moeda como âncora monetária, acrescentou um operador.
'O dólar baixo incentiva a importação, o que, por sua vez, ajuda a conter a inflação', disse o profissional.