Título: Ao lado do ditador de Burkina Faso, Lula elogia democracia na África
Autor: Nossa, Leonêncio
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2007, Nacional, p. A8

Comitiva foi recebida em palácio onde vive Campaoré, que derrubou e matou presidente anterior, em 1987

Convidado de honra da festa que comemorava os 20 anos de poder de Blaise Campaoré em Burkina Faso - um militar que derrubou e matou em 1987 o presidente marxista Thomaz Sankara -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou seu primeiro discurso na turnê africana, ontem, para exaltar a democracia, a justiça social e a paz. ¿Quando falamos em democracia e desenvolvimento precisamos ter em conta que a palavra mágica que, na minha opinião, permite resolver os problemas do países pobres chama-se paz¿, disse Lula, no seminário Democracia e Desenvolvimento na África. ¿Sem paz, nenhum país do mundo vai se desenvolver¿, completou.

A visita durou menos de 24 horas. No final da tarde, o presidente brasileiro viajou para Brazzaville, no Congo, onde hoje se encontrará com o ditador Denis Sassou Nguesso.

Em Uagadugu, antes do discurso, Lula e os ministros brasileiros foram recebidos no palácio onde vive o ditador Campaoré - um conjunto de prédios de granito e azulejos verdes, cercado por um extenso jardim verde mantido por um sistema de irrigação. O cenário destoa do resto da paisagem árida da capital.

Ostentando um clássico óculos ray ban, Campaoré - que os opositores acusam de ter fraudado as três eleições nas quais foi reeleito - ofereceu champanhe francês a Lula e à comitiva. O presidente brasileiro disse que visitava com alegria uma África ¿que está em pleno ressurgimento, desenha seu próprio destino e quer deixar para trás uma história de desencontros e conflitos provocados ou agravados pela herança colonial¿.

No seminário, aplaudido por cerca de 500 pessoas, o presidente brasileiro também associou a guerra à miséria ao afirmar: ¿Se ao invés de compramos pão, tivermos que comprar canhão; se ao invés de compramos arroz, tivermos que comprar fuzis; e, se ao invés de abraçarmos um companheiro, tivermos que atirar nele, certamente, esse país nunca irá se desenvolver.¿

Lula mencionou ainda sua história pessoal e a presença africana no Brasil. ¿Eu sou o resultado mais vivo da democracia no meu país. Se não fosse a democracia dificilmente um torneiro mecânico chegaria à presidência de uma nação poderosa¿.

E prosseguiu: ¿O jeito amável de ser do povo brasileiro, o futebol e o samba são resultados de uma miscigenação que deu certo, uma mistura de africanos, índios e portugueses.¿

Ao rebater críticas ao seu giro pela África - que inclui visitas as três ditadores -, Lula lembrou os esforços do governo brasileiro para a democracia na região. Citou o apoio político e as missões em Angola e Moçambique e as parcerias em Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e República Democrática do Congo . ¿Nas sete viagens que fiz à África estabeleci uma agenda centrada na busca do desenvolvimento solidário e na promoção do bem-estar do nossos povos.¿

LUXO

A comitiva brasileira ficou impressionada com o luxo do palácio presidencial. Dois cavalos de bronze em tamanho natural e um chafariz em forma de globo marcam sua entrada. Dois jaguares adultos empalhados enfeitam uma das salas. Grandes lustres de cristal iluminam a sala principal e um conjunto de microlâmpadas, acima deles, muda constantemente de cores. Burkina Faso tem 13 milhões de habitantes, a maioria (76%) analfabeta, e um orçamento que representa um décimo do da Petrobrás.

Por falta de vôos comerciais, a equipe do Estado viaja na comitiva presidencial