Título: Cristina tem maior apoio entre os pobres
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2007, Internacional, p. A14
Segundo pesquisa, mais de 55% deles votarão na primeira-dama argentina
Na reta final da campanha para a eleição presidencial argentina, várias pesquisas indicam que os pobres e a classe média baixa votarão preferencialmente na primeira-dama Cristina Fernández de Kirchner, a candidata do governo do presidente Néstor Kirchner. Essa é a divisão social do voto mais marcada desde a volta da democracia, em 1983. Segundo uma pesquisa do Centro de Estudos de Opinião Pública (Ceop), 55,6% dos pobres votarão em Cristina, candidata da Frente pela Vitória, uma sublegenda do Partido Justicialista (peronista).
As pesquisas indicam que Cristina pode ganhar as eleições já no primeiro turno, dia 28. A segunda colocada nas sondagens, Elisa Carrió, da centro-esquerdista Coalizão Cívica, não é popular entre os pobres: apenas 11,9% dos argentinos da classe baixa a escolheriam. O terceiro colocado nas pesquisas, o sisudo ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, do partido Uma Nação Avançada (UNA), teria 7,9% dos votos desse setor.
Outras duas pesquisas, das consultorias Ricardo Rouvier e Associados e Analogias, apontam, respectivamente, que Cristina contará com 49,8% e 48,2% das intenções de voto dos pobres.
Cristina também tem grande apoio na classe média baixa. A pesquisa da Analogias indica que, desse setor, 40,7% votarão na primeira-dama.
Os problemas para a primeira-dama começam nas classes alta e média alta, que costumam rejeitar o casal Kirchner. Segundo a Rouvier e Associados, Cristina só terá o voto de 16,1% desses setores, um pouco menos que Lavagna (16,8%). Pela pesquisa da Analogias, a governista terá 25,6% e Lavagna, 28%.
Os analistas assinalam que a tendência dos setores mais baixos é votar na continuidade do governo de plantão, ou seja, em Cristina - que, em princípio, manteria em linhas gerais a política econômica de seu marido, embora com algumas alterações. Esse também seria o comportamento de grande parte dos jovens que votam pela primeira vez. No total, serão 2,9 milhões de novos eleitores. Deles, 65,3%, segundo a consultoria Equis, são pobres ou ¿vulneráveis¿. Ou seja, jovens cujos lares estão abaixo da linha da pobreza ou pertencem a famílias de setores da classe média baixa com riscos de empobrecimento.
Nos dias finais de campanha, Cristina realizará uma maratona de comícios, acompanhada de seu principal cabo eleitoral, o presidente Kirchner. As viagens e comícios são em grande parte financiados pelo contribuinte, já que o governo Kirchner utiliza os fundos do Tesouro público para a campanha. O próprio chefe do gabinete de ministros, Alberto Fernández, defendeu essa prática, alegando que os gastos são feitos por Cristina na condição de primeira-dama. Cristina - que não ocupa nenhum cargo no gabinete - fez diversas viagens ao exterior acompanhada por um séquito de ministros e assessores de seu marido. No total, segundo cálculos do semanário Noticias, entre viagens, hotéis, pagamento de assessorias e publicitários, o governo gastou mais de US$ 41 milhões na campanha de Cristina.