Título: FMI agora avalia que dólar está supervalorizado e pode cair mais
Autor: Mello, Patricia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2007, Econimia, p. B3
Declaração surpreende porque Rato havia dito que a moeda caiu demais
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, afirmou ontem que o dólar ainda tem muito espaço para cair. ¿Na análise do FMI, o dólar ainda está supervalorizado e pode cair mais¿, disse ele, em café da manhã com jornalistas, na sede da instituição. A declaração causou surpresa, já que Rato havia dito, nas últimas semanas, que o dólar tinha caído demais.
¿Apesar de ter caído bastante nos últimos dois ou três anos, o dólar ainda está supervalorizado, se levarmos em conta o equilíbrio de médio prazo (3 a 5 anos)¿, disse o diretor-gerente do Fundo. Já o euro está ¿próximo do valor de equilíbrio¿, disse Rato.
Seus comentários foram ouvidos com atenção especial, já que os ministros do G7 (EUA, Canadá, Itália, Grã-Bretanha, Alemanha, França e Japão) se reúnem nesta sexta-feira, em Washington, à margem da reunião anual do FMI, justamente para discutir taxas de câmbio e de juros diante da crise global de crédito.
O diretor-gerente do Fundo afirmou que os riscos de um cenário negativo na economia mundial aumentaram. Segundo Rato, o Fundo espera uma desaceleração do crescimento global, embora não dramática. ¿O mundo vai crescer um pouco menos que em 2006 e 2007¿, disse Rato. ¿Mas o fato é que os riscos de um cenário negativo na economia global aumentaram.¿
De acordo com Rato, o efeito da crise de crédito sobre a economia real será um dos principais temas da reunião anual do Fundo, que começa hoje. ¿A questão principal é: estamos em um ponto de inflexão, em direção a um crescimento significativamente menor ou não?¿
A crise das hipotecas de alto risco, que se espalhou para outros mercados de crédito, atinge principalmente os Estados Unidos, mas afeta também a União Européia e o Japão. De acordo com Rato, caso a turbulência financeira perdurar, haverá mais riscos de uma maior desaceleração na economia mundial.
Ele sublinhou outros riscos que continuam presentes na economia mundial: ajuste desordenado nos desequilíbrios globais, retrocesso nas práticas protecionistas e fragilidades em países emergentes que precisam de fluxos de capital para financiar seus déficits em conta corrente (como algumas nações do Leste Europeu). ¿Estamos aconselhando governos e bancos centrais a ficarem alertas para esse aumento nos riscos¿, disse Rato.
Rato, que será substituído no cargo, em novembro, pelo francês Dominique Strauss-Kahn, afirmou que há muitas lições a serem aprendidas com a crise das hipotecas de alto risco. ¿Mas nós não devemos tentar eliminar as crises com regulamentações, não podemos reagir de forma exagerada¿, disse.
Segundo ele, a turbulência foi um teste para uma série de instrumentos financeiros novos e sofisticados - os papéis lastreados em hipotecas e suas variações - e mostra que os mercados precisam estar prontos para condições não tão benignas. ¿Os governos precisam se adaptar a um novo cenário.¿