Título: Politburo chinês terá filhos da elite
Autor: Kang Lim, Benjamin
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2007, Internacional, p. A27

Novas nomeações reforçarão percepção de que poucos concentram o poder

Chen Yun, o grande rival de Deng Xiaoping (morto em 1997), disse uma vez que a China deveria ser entregue a ¿principezinhos¿ confiáveis, que não cavariam o túmulo do Partido Comunista.

O encontro do novo Comitê Central do partido, na segunda-feira, será a festa de iniciação desses pequenos príncipes - os filhos privilegiados da elite política do país. Um número recorde deles deverá ingressar no Politburo, disseram fontes ligadas ao 17º Congresso do Partido Comunista, que se realiza em Pequim.

O presidente chinês, Hu Jintao, precisa acomodar essa nova geração para manter um delicado equilíbrio de poder que inclua grupos heterogêneos, como a Liga da Juventude Comunista - do próprio Hu -, os militares, os veteranos do partido e os líderes provinciais.

No entanto, a ascensão dos filhos da velha elite ¿reforçará a percepção da população de que o poder e a riqueza do país concentram-se em pequenos grupos¿, escreve Cheng Li, membro do Instituto Brookings, grupo de estudos de Washington, em artigo na revista China Brief. ¿A presença de um grande contingente de principezinhos no próximo Politburo deve minar significativamente as pretensões populistas de Hu¿, afirmou Li.

Muitos desses herdeiros da elite eram impopulares e foram rejeitados pelos delegados de outros congressos qüinqüenais do PC, mas sua imagem coletiva melhorou nos últimos anos. Muitos são instruídos e amadureceram galgando degraus no partido, no governo ou nas Forças Armadas. ¿Alguns mudaram a imagem negativa exibindo suas habilidades de liderança¿, escreveu Li.

Os pequenos príncipes compartilham o objetivo de preservar seus privilégios e perpetuar o regime de partido único. Como facção política, no entanto, eles são um grupo disperso e vários são rivais entre si.

Um cientista político chinês comparou-os a empresários mais preocupados com o desempenho de suas companhias, enquanto o presidente Hu está mais interessado em manter-se no poder. ¿Os principezinhos são confiantes e têm senso de responsabilidade. Ninguém questiona sua lealdade¿, afirmou o cientista político, que não quis ser identificado.

Esses são alguns dos jovens em ascensão:

O líder do PC em Xangai, Xi Jinping, de 54 anos, é cotado para ingressar no Comitê Permanente do Politburo, a cúpula do poder formada por nove membros. Ele é filho do falecido reformista Xi Zhongxun, arquiteto das zonas econômicas especiais da China, que se beneficiavam de incentivos fiscais e inauguraram a fase de abertura e reforma do país.

O ministro do Comércio Bo Xilai, de 58 anos, designado para assumir a chefia do partido em Chongqing, sudoeste do país, após fracassar na tentativa de tornar-se vice-primeiro-ministro. Seu falecido pai, o vice-premiê Bo Yibo, foi fundamental na sua ascensão.

Liu Yandong, de 61 anos, ministra do Departamento de Trabalho da Frente Unida do PC, responsável por obter o apoio de não-comunistas. Seu pai é o ex-vice-ministro da Agricultura Liu Ruilong.

Li Yuanchao, de 56 anos, chefe do PC na Província de Jiangsu. É um aliado de Hu com cadeira garantida no Politburo. Seu pai, Li Gancheng, foi vice-prefeito de Xangai.

O prefeito de Pequim, Wang Qishan, de 59 anos, candidato a ingressar no Politburo. É genro do falecido vice-primeiro-ministro Yao Yilin e governou a Província de Cantão.

Ma Kai, de 61 anos, chefe da Comissão de Reforma e Desenvolvimento. Seu pai, Fang Zhengzhi, foi funcionário de alto escalão do Ministério do Trabalho.