Título: Antigripais são inócuos em crianças
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2007, Vida&, p. A38

Conclusão é de comitê consultivo da FDA, órgão que regula remédios nos EUA, e deve resultar em recomendação

Remédios contra tosse e resfriado não funcionam em crianças e deveriam ser proibidos para menores de 6 anos, decidiu ontem um comitê consultivo do FDA, órgão do governo dos EUA que regulamenta o mercado de medicamentos. O FDA não é obrigado a seguir as disposições dos comitês consultivos, mas costuma fazê-lo.

Segundo o grupo de especialistas, remédios para resfriado vendidos sem receita médica deveriam ser submetidos a mais estudos, mesmo depois das décadas durante as quais bilhões de doses foram aplicadas a crianças todos os anos.

¿Os dados que temos agora é de que (esses remédios) não parecem funcionar¿, disse o epidemiologista Sean Henry, um dos especialistas convocados pela FDA para analisar esses medicamentos, vendidos para o alívio dos sintomas do resfriado. A recomendação aplica-se a remédios contendo uma ou mais substâncias descongestionantes, expectorantes, anti-histamínicas e antitussígenas.

A recomendação deverá levar a uma mudança radical na forma como esses medicamentos - que vinham escapando de um escrutínio mais rigoroso - são rotulados para o mercado americano, promovidos e utilizados.

Em duas votações separadas, os membros do comitê decidiram que os remédios não devem ser usados em crianças menores de 2 e, depois, em menores de 6 anos. Uma terceira votação, dessa vez para vetar o uso em menores de 11 anos, não obteve maioria. Numa votação anterior, o comitê havia pedido, por unanimidade, mais estudos para determinar se os remédios realmente funcionam.

Essa recomendação exigirá que a FDA reclassifique os princípios ativos desses medicamentos, atualmente reconhecidos como seguros e eficientes, o que os exclui de testes obrigatórios. O processo poderia levar anos. Refazer os rótulos e bulas dos medicamentos indicando que eles não devem ser administrados em algumas faixas etárias seria uma medida mais factível que proibi-los.

GRUPO VULNERÁVEL

O encontro de ontem e anteontem, no qual as decisões foram tomadas, ocorreu uma semana depois de a indústria farmacêutica ter preventivamente se mobilizado nos Estados Unidos para acabar com as vendas de drogas sem prescrição para crianças menores de 2 anos de idade.

Pediatras pressionando por restrições mais rigorosas disseram a consultores da FDA que remédios vendidos no balcão sem receita nunca deveriam ser oferecidos a crianças menores de 6 anos, um grupo classificado por eles como o mais vulnerável a qualquer possível efeito colateral.

Técnicos da FDA e consultores concordam que não existe evidência também do efeito dos remédios contra a tosse e resfriado em crianças mais velhas. Mesmo assim, os membros do comitê consultivo preferiram não ampliar a recomendação de suspensão de uso. Alguns temem que uma tal proibição faça com que os pais também deixem de usar os medicamentos.

A indústria farmacêutica informa que esses remédios, comprados por 3,8 bilhões de pessoas por ano para tratar crianças, são eficazes e seguros. Mas recomenda maior orientação aos pais para que não administrem doses excessivas.