Título: PF desmonta golpe de R$ 1 bi no BB
Autor: Auler, Marcelo., Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2007, Economia, p. B1

Quadrilha tentou se aproveitar de erro de digitação do banco para `legalizar¿ a soma na conta de um aposentado

Um erro de digitação do Banco do Brasil quase permitiu a uma quadrilha aplicar um golpe de R$ 1 bilhão. Depois de um ano e meio de investigações, os policiais federais conseguiram desbaratar o grupo que articulava o golpe com a ajuda de doleiros, funcionários do banco, auditores da Receita Federal e até um ex-deputado estadual do Rio de Janeiro. Ao todo, 22 mandados de prisão e 24 de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça contra os acusados investigados pela Operação Alquimista.

Apenas 2 dos 24 mandados de prisão que a PF obteve na 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo não foram cumpridos. Os dois foragidos são peças-chave do esquema de fraudes. Ambos são do Rio de Janeiro: o ex-deputado federal Aralton Nascimento Lima, que cumpriu mandato pelo PP (1986 a 1990) e também é coronel reformado do Corpo de Bombeiros do Rio, e o funcionário do Banco do Brasil Artur Licínio Machado.

Lima e Machado fazem parte do ¿núcleo 1¿ da Operação Alquimista. Esse grupo, de 16 pessoas, é acusado de tentar fraudar o Banco do Brasil em R$ 1 bilhão. O próprio banco, por um erro ainda não explicado, registrou a quantia em 2005 como investimentos em nome do aposentado João Batista da Silva Filho, de Americana (SP).

As equipes da PF estiveram cedo na casa dos dois acusados. Na mansão do Condomínio Parque Palace, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, onde morava Lima, os policiais pularam o muro para despertar o casal encontrado na casa. Já na Rua das Laranjeiras, na zona sul, os policiais chegaram a chamar um chaveiro para arrombar o apartamento, no condomínio Solar de Laranjeiras. A empregada de Machado chegou e o arrombamento não foi necessário, mas o funcionário não foi achado. De lá, os policiais saíram carregando documentos.

A investigação da PF revelou que o aposentado João Batista, depois de receber em sua casa o informe de rendimentos, inicialmente admitiu ao BB e à Receita que não era dono do dinheiro. Depois, cooptado por um velho conhecido da Polícia Federal, o paulista Ricardo Lira Daim - que ontem foi preso em Brasília -, decidiu brigar pelo direito a sacar o dinheiro. Daim já foi investigado como integrante da máfia que adulterava combustível. Foi alvo de apuração pela PF e pela CPI dos Combustíveis da Assembléia Legislativa de São Paulo.

Foi por causa da participação de Daim nesse esquema que o delegado federal Claudio Nogueira, responsável pelos inquéritos da máfia dos combustíveis, descobriu a tentativa de fraude contra o BB. Àquela altura, o grupo de inteligência do banco também já atuava no caso e as duas instituições se juntaram contra a quadrilha.

Daim formou, ao longo dos últimos dois anos, o grupo que tentava de diversas formas liberar o R$ 1 bilhão. Foi por seu intermédio que a advogada carioca Regina Mesquita Parada cooptou o auditor da Receita Federal Irari Anapurus, do Rio, para que ele ajudasse a provar a legalidade do dinheiro.

O auditor instaurou uma ação fiscal, intimando, em 5 de março, João Batista a comparecer à Receita do Rio. O aposentado passou procuração a Regina. A idéia do grupo era provocar a conclusão de que o aposentado tinha condições de possuir aquele montante, legalizando o que nunca existiu.