Título: Núcleo político tentou fazer lobby em Brasília
Autor: Auler, Marcelo., Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2007, Economia, p. B3

Ex-deputado e ex-juiz classista do Rio participavam do grupo, que prometia contatos com o BB e com o BC

O grupo que tentou o golpe de R$ 1 bilhão no Banco do Brasil fazia lobby em Brasília para que tudo fosse decidido por meio de um processo administrativo interno. O núcleo político da quadrilha tinha a função de buscar a liberar o dinheiro influenciando políticos e convencendo diretores do Banco do Brasil e do Banco Central.

Criado, segundo a PF, pelo empresário Ricardo Myra Daim., esse núcleo contava com o ex-deputado estadual Aralton Nascimento Lima, Josué Rene Vieira e o ex-juiz classista do Rio Lemoel Santana. Vieira gabava-se de ter contatos junto ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) . Os três foram presos ontem.

No Banco do Brasil, além do servidor Artur Licínio Machado, também atuava repassando informações à quadrilha o gerente Antônio Glauter Mendonça. Os dois tiveram a prisão decretada, mas só Mendonça foi preso. Ambos trabalhavam no Rio. A quadrilha usava Maria Lúcia Ribeiro para fazer contato com o gerente.

Para fazer com que o banco pagasse o dinheiro ao aposentado, os golpistas abriram um processo administrativo no Banco do Brasil. O processo interno tinha por objetivo determinar a liberação do dinheiro. A quadrilha havia decidido esse caminho em vez de tentar recorrer à Justiça comum. Daí a importância do lobby feito na direção do banco e das informações passadas pelos funcionários presos.

Curiosamente, quando recebeu o informe de rendimentos com a informação errada usado para no golpe, o aposentado João Batista da Silva Filho havia ingressado com ação de danos morais contra o próprio Banco do Brasil. Seu advogado, que também foi preso, era Paulo Kawazaki.

Depois, o aposentado e o advogado desistiram da ação para poderem cobrar o resgate do ¿investimento¿. ¿O aposentado foi convencido de que poderia conseguir esse dinheiro¿, afirmou o delegado Rodrigo de Campos Costa, coordenador da Operação Alquimista.

A ação do grupo foi descoberta pelo banco e pelos policiais federais, que passaram a acompanhar todas as movimentações da quadrilha. ¿Mas eu quero deixar claro que não havia nenhuma possibilidade de o grupo conseguir sacar esse dinheiro do banco¿, afirmou o delegado Jaber Makul Hanna Saadi, superintendente da PF em São Paulo.

Auxiliando no esquema estavam ainda o advogado de Brasília João Felipe de Morais e Carlos Umberto Gonçalves Lima, que chegou a se desentender com os demais. Umberto, por sua vez, tinha ligações estreitas com o também auditor da Receita Federal do Rio Omesias Castelo Branco, que também atuou no esquema. Os cinco foram presos.

A expectativa de que o dinheiro fosse liberado era tanta que Daim chegou a contratar até um ¿segurança¿ para dar proteção ao aposentado João Batista depois que o dinheiro fosse liberado pelo banco. Essa função estava entregue a um goiano: Adriano Araújo Carneiro Vaz.