Título: PF investiga esquema de lavagem de dinheiro
Autor: Auler, Marcelo., Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2007, Economia, p. B4

Prisão de doleiros pode revelar transações com contas no exterior

Agentes da Polícia Federal e da Receita Federal identificaram uma rede de doleiros baseados em São Paulo, Brasília e Rio durante a investigação da tentativa de golpe ao Banco do Brasil. O grupo seria responsável por pulverizar em várias contas o R$ 1 bilhão que deveria render a fraude. os doleiros são acusados de trabalhar com o chamado dólar cabo - transferência eletrônica da moeda americana para contas no exterior.

A descoberta do grupo levou ao bloqueio de 15 contas bancárias no Uruguai e nos Estados Unidos. A PF ainda aguarda uma resposta da Suíça para obter o bloqueio de outras contas. Os agentes federais não sabem quanto teria passado por essas contas mantidas pelos doleiros.

¿Vamos investigar uma possível lavagem de dinheiro que envolva essas contas¿, afirmou o coordenador da Operação Alquimista, o delegado da PF Rodrigo de Campos Costa. Os agentes chegaram aos grupo por meio de interceptações telefônicas e documentos.

Com base nelas, os policiais pediram ao juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, especializada em lavagem de dinheiro, a expedição dos mandados de busca e apreensão e de prisão temporária dos suspeitos por cinco dias, que podem ser prorrogados por mais cinco. O juiz concedeu o que foi requisitado pelos policiais.

DOLEIROS

Na manhã de ontem, os agentes federais detiveram José Sukadolnik Filho, acusado de liderar a rede de doleiros, Renato Marfom e Marcos Estevam Assife outros dois doleiros. Sukadolnik teria sido o doleiro contatado pelos envolvidos na tentativa de golpe para montar o esquema de pulverização do dinheiro, após a sua retirada do Banco do Brasil.

Marfom foi preso na casa que aluga na Alameda das Andorinhas, em um condomínio em Aldeia da Serra, na Grande São Paulo. O doleiro não reagiu à prisão e foi levado pelos agentes para a sede da PF, na Lapa, na zona oeste de São Paulo, onde foi interrogado. Em sua casa, os policiais apreenderam computadores e documentos. Na casa de um outro doleiro, na Rua Turiaçu, em Perdizes, na zona oeste, os policiais apreenderam também documentos.

DINHEIRO

Os federais revistaram, ainda, uma agência de câmbio dentro de um shopping na Avenida Brigadeiro Faria Lima, na zona sul. Saíram de lá levando computadores. Ao todo, nas buscas realizadas em São Paulo, os policiais apreenderam ainda R$ 65 mil - R$ 40 mil estavam em uma casa e R$ 25 mil na agência de câmbio revistada.

Os federais não revelaram quantas contas eram mantidas pelo esquema na Suíça. O grupo usava, segundo a PF, ¿paraísos fiscais¿ para ocultar patrimônio. ¿Caso o golpe contra o Banco do Brasil desse certo, o grupo já tinha um esquema pronto para mandar o dinheiro para o exterior¿, afirmou o delegado.

Os acusados investigados na Operação Alquimista já haviam, segundo os delegados da PF, decidido quanto cada um deles ia receber caso obtivessem o R$ 1 bilhão que esperavam retirar do Banco do Brasil.

Todos os detidos são acusados de formação de quadrilha e de tentativa de estelionato - por causa do golpe que se pretendia dar no banco estatal. Há ainda contra os acusados a acusação de corrupção ativa e passiva. ¿Vamos investigar ainda possíveis outros delitos a partir dessa investigação¿, afirmou o delegado Jaber Makul Hanna Saadi, superintendente da PF em São Paulo.

Além do esquema envolvendo o dólar cabo, os agentes federais também investigam a possibilidade de que o grupo de golpistas estivesse movimentando contas bancárias inativas do Banco do Brasil, sacando o dinheiro deixado nelas pelos correntistas. A PF quer saber, ainda, se dinheiro dessas contas foi transformado em dólar e enviado ao exterior pelos doleiros.

Uma outra forma possível de lavagem de dinheiro investigada seria praticada pelo grupo por meio da compra de títulos públicos que eram negociados pela doleira Janete Mazarim Gonçalvez, que foi detida no Rio.