Título: Caso Cisco tinha ligações no Panamá
Autor: Godoy, Marcelo., Auler, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2007, Economia, p. B6

Escritório de advocacia no país é apontado como o responsável pelos contatos com 15 empresas no Caribe

O escritório de advocacia no Panamá é o elo entre a Cisco Systems e o esquema de offshore e empresas fantasmas no Brasil e nos Estados Unidos, acusado de fraude fiscal e tributária de R$ 1,5 bilhão. Apontado como o responsável pela montagem do esquema envolvendo 15 empresas em paraísos fiscais do Caribe, o escritório Alemán, Cordero, Galindo & Lee anuncia entre seus clientes a Cisco Systems Inc., a matriz da multinacional cuja filial brasileira está sob investigação da Polícia, da Receita e do Ministério Público Federais. Todas as offshore teriam uma função chamada ¿patrimonial¿, ou seja, são suspeitas de lavagem de dinheiro.

Quatro panamenhos são investigados no caso: Miriam Estela Rivera, Myrna de Navarro, John Benjamin Foster e Andres Maximino Sanchez. Eles são ligados ao escritório de advocacia, conhecido também como Alcogal, e são apontados como ¿sócios interpostos de diversas offshore¿. A investigação da PF não deixa dúvida: a Cisco Systems Inc. é chamada de ¿beneficiária¿ do esquema, assim como a Cisco do Brasil Ltda.

O escritório panamenho tem ainda entre seus clientes bancos americanos e europeus, internacionais, multinacionais dos ramos de alimentação, tabaco e eletrônicos presentes no Brasil. Em São Paulo, o esquema das offshore criado pelo Alcogal teria relações com uma advogada que trabalha num escritório na Rua Estados Unidos, nos Jardins. Ali a PF cumpriu um dos mandados de busca e apreendeu um computador. A prisão da advogada não foi decretada pela Justiça.

A primeira das offshore usadas no esquema, segundo os investigadores do caso, foi a FulFill Holding Ltd, com sede das Ilhas Virgens Britânicas. A empresa está registrada como uma exportadora. Além dela, outras seis offshore com sede no mesmo país estão sob investigação. São elas: a Algen Limited, a Bravo Trading Ltd., a Cansons Investiments, a Raywell Overseas Ltd., a Strasberg Overseas Ltd e a Superders. A grande quantidade de offshore era mais uma tentativa de proteger o esquema. Cada vez que uma delas começava a ser investigada, a empresa era abandonada pelo esquema, que montava outra para substituí-la.

A PF relaciona ao esquema ainda seis offshore nas Bahamas, entre elas a Software Links Ltd. Suspeita-se que algumas dessas offshore tenham sido usadas para justificar a saída de divisas do Brasil como se se tratasse do pagamento de direitos autorais de softwares. Os proprietários desses direitos, porém, seriam fantasmas usados para a lavagem do dinheiro por meio da ocultação de patrimônio de empresas e executivos investigados. Além do escritório Alcogal, foram relacionadas ao esquema outras três empresas com sede no Panamá.

O esquema usou ainda oito empresas suspeitas de serem fantasmas nos EUA. Elas teriam sede em Miami, na Flórida. Entre elas, estava a South America Overseas Ltd., responsável por exportar mercadorias para as offshore, que as repassavam para as empresas fantasmas montadas no Brasil. A Receita apurou que a maioria dessas empresas tinha como sede uma mesmo endereço - mudava apenas o número da sala num prédio de Miami.

Segundo a PF, três empresas americanas são ligadas à Mude Comércio e Serviços Ltda. Trata-se da Mude Latan LLC, da Mude USA e da Mude Investiments Corp. Oficialmente, a Mude seria uma distribuidora de produtos da Cisco no Brasil, mas a suspeita é que ela fosse o departamento de importações da multinacional no País. O ex-presidente da Cisco Carlos Roberto Carnevali estaria por trás da Mude. Outra empresa investigada no esquema é a What¿s Up Business. Reinaldo de Paiva Grillo, um dos sócios da What¿s Up, é o gerente de logística da Mude.

SOLTOS

A PF e o MPF pediram a prorrogação da prisão de 15 dos 40 detidos na Operação Persona, mas o juiz Alexandre Cassetari, da 4ª Vara Criminal Federal, decidiu manter 6 presos - Carnevali entre eles. Pedro Ripper, presidente da Cisco do Brasil e outros 33 acusados serão soltos à zero hora de domingo.