Título: Mantega: Ou o FMI muda ou morre
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2007, Economia, p. B18
Ministro critica diretor-gerente do Fundo por não haver apresentado uma 'proposta razoável' de mudança
O Fundo muda ou perece, por falta de função e de legitimidade, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, numa entrevista no saguão do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele criticou o diretor-gerente da instituição, o espanhol Rodrigo de Rato, por não haver apresentado, ainda, uma proposta de reforma considerada razoável pelos governos do Brasil e de outros países em desenvolvimento, como a Índia, a África do Sul e o Egito. Se não houver mudança, afirmou, o Brasil se afastará - mas em seguida esclareceu: a idéia não é desligar o País do Fundo, mas continuar batalhando pela reforma.
O FMI, disse Mantega, é uma instituição em crise de identidade. 'Veja o abandono', começou a dizer, mas cortou a frase nesse ponto. Limitou-se a lembrar a decisão do atual diretor-gerente de abandonar o posto antes do fim do mandato. 'Não sei o que significa', acrescentou Mantega, descartando, aparentemente, a explicação oficial apresentada há meses por Rato: motivos pessoais. Além disso, lembrou que houve dois candidatos à sucessão, um fato inédito e um sintoma preocupante, segundo insinuou.
Os desentendimentos entre o ministro e o chefe do FMI acentuaram-se na assembléia do ano passado, quando o Brasil ficou fora da primeira redistribuição de cotas e de poder de voto. Mantega rejeitou as estimativas de crescimento brasileiro apresentadas no Panorama Econômico Mundial divulgado na quarta-feira. Os economistas do Fundo, segundo ele, fizeram uma análise equivocada da situação do País, ao calcularem uma expansão de 4,4% para este ano e 4% para o próximo.
Segundo Mantega, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está crescendo entre 4,7% e 4,8% em 2007 e deve crescer 5% em 2008, puxado pela demanda interna de consumo e de investimento. Neste ano, afirmou, o País esta investindo 13% mais que no ano passado. Além disso, o Brasil continua numa situação confortável, quanto à inflação, e o Banco Central poderá continuar baixando os juros, quando julgar conveniente.
Os economistas do Fundo erraram também, segundo Mantega, ao prever uma desaceleração da economia mundial, como conseqüência da crise no mercado de hipotecas imobiliárias. Se a economia estivesse em desaceleração, argumentou, preços das matérias-primas estariam em queda. Não estão, e entre os produtos básicos em alta esta o petróleo - um fato positivo para o Brasil, segundo Mantega, se servir como estimulo à produção de etanol.
A crise do mercado de subprime 'foi importante para mostrar quem está mantendo o equilíbrio da economia mundial (os emergentes) e quem está atrapalhando (os ricos)'. Esse é um argumento a mais, segundo ele, a favor de um peso político maior para os países em desenvolvimento no FMI.
Nesse momento, ele estava repetindo uma alegação formulada na reunião do Grupo dos 24 (países em desenvolvimento), mas o comunicado oficial do grupo só sairia mais tarde.
Esse maior peso demonstrado pelos emergentes, disse o ministro, justifica também uma representação dos países em desenvolvimento no Grupo dos 7, formado pelas maiores e mais avançadas economias capitalistas - EUA, Japão, Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Canadá. O Brasil seria um dos incluídos, e os demais seriam provavelmente a China, a Índia e África do Sul. Ontem, Mantega ainda teria um encontro com ministros desses países para discutir a questão das cotas no FMI. Dos quatro, só a China foi contemplada na redistribuição de setembro de 2006.