Título: Airbus, enfim, entrega o superjumbo
Autor: Lapouge, Gilles
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2007, Economia, p. B17

Com dois anos de atraso, o A380 chegou ontem às mãos da primeira compradora, a Singapore Airlines

Dia de glória para a Airbus. O primeiro exemplar de seu avião mastodonte A380, com seus 500 lugares (ante os 400 lugares do Boeing 747 e os 300 do Boeing 777) foi entregue em Toulouse, França, à companhia Singapore Airlines. Isso deverá abrir uma nova fase na aviação. Até agora, o 747 era o maior avião comercial já construído. Com o superjumbo A380, está inaugurada a era dos ¿aviões gigantes¿.

Mas essa é uma glória amarga. O primeiro A380 foi entregue à Singapore Airlines com dois anos de atraso. E os próximos exemplares chegarão lentamente: Toulouse entregará 13 aparelhos em 2008, 25 em 2009 e 45 em 2010. Porém, os especialistas já murmuram que novos atrasos, de um a dois anos, poderão acontecer.

A razão desses atrasos é sempre a mesma: o avião é feito em vários países, sobretudo Alemanha e França. Ora, as oficinas de Hamburgo e as de Toulouse não operam com o mesmo software. Para o cabeamento elétrico (cada aparelho contém 1.500 quilômetros de fios) tudo deve ser recomeçado do zero para cada avião.

Esse é apenas o primeiro desastre do Airbus. O segundo é que o consórcio europeu (EADS) está infestado por delitos financeiros. O esquema foi simples: em 2005 e 2006, as ações da Airbus estavam no auge, mas os chefes sabiam que elas iriam cair bruscamente por causa dos atrasos de entrega.

Esses bravos chefes enfrentaram então a adversidade da seguinte maneira: vendendo seus papéis. Nesse cálculo sinistro, um dirigente como o francês Noël Forgeard ganhou 3 milhões. Assim, o 15 de outubro, que deveria ter sido um dia de festa, foi cinzento e enfadonho.

Os novos dirigentes do consórcio acham que, a longo prazo, a situação se resolverá. Primeiro porque o A380, que a Boeing fez de tudo para desacreditar, seduziu todo o mundo. Enquanto a versão alongada do Boeing 747, o 747-8, mal conseguiu encontrar clientes, o A380 tem 165 pedidos em carteira.

Acontece que o A380 atende às novas necessidades do transporte. O tráfego aéreo mundial explode. As companhias já não conseguem atender à demanda. Elas carecem de 20 mil assentos a cada dia. O futuro é, portanto, dos ¿grandes transportadores¿.

Nas suntuosas ¿suítes¿ do A380 do Singapore Airlines, o trajeto Paris-Cingapura-Sydney custará até 11,5 mil. Mas o A380 não busca apenas o nicho de luxo. Ele seduz também as empresas de vôos charter. O grupo espanhol Marsans acaba de fazer uma encomenda: o A380 deverá equipar frotas de baixo custo para o transporte em massa de pessoas em férias.

Eis porque os dirigentes da Airbus, apesar do fel que engolem há um ano, se dizem otimistas. ¿O futuro do céu¿, dizem eles, ¿está nos grandes transportadores. O A380 será o rei do céu¿. E precisam: ¿Todas as companhias virão a ele. A British Airways, cliente apenas da Boeing, acaba de encomendar 12 A380 e fez 7 opções.¿

Essas análises parecem razoáveis. No longo prazo, o Airbus deverá sair do ¿buraco de ar¿ atual. A menos que o escândalo financeiro que corrói a EADs há seis meses se prolongue mais e provoque novos e inadmissíveis atrasos nas próximas entregas.

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