Título: Nova geração é mais independente
Autor: Barella, José Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2007, Internacional, p. A27

Entrevista Sun Yunxiao: sociólogo chinês Com o aprofundamento da abertura econômica, os pais passaram a respeitar as escolhas dos filhos e já não controlam seu futuro

A abertura econômica da China aproximou pais e filhos. Os pais respeitam as escolhas dos filhos, e estes são mais independentes. A avaliação é do sociólogo Sun Yunxiao, vice-diretor do Centro de Pesquisa de Juventude e Criança da China.

Os chineses de até 30 anos formam a primeira geração nascida e criada sob a abertura econômica. Qual a principal diferença em relação às gerações anteriores?

Destaco três aspectos. O primeiro refere-se à experiência de vida. A geração anterior foi formada em um período difícil, o período (1949-76) de Mao Tsé-tung, sob estrito controle do Estado. A atual é estável e rica. O segundo aspecto é cultural: os pais desses jovens viveram em um ambiente fechado, agora é muito mais aberto. O terceiro aspecto diz respeito à própria relação familiar. Os casais das gerações passadas costumavam ter vários filhos. A partir de 1980, com a lei do filho único, isso acabou.

A relação entre pais e filhos mudou muito?

Claro, eles ficaram mais próximos. Com o aprofundamento da abertura econômica, a partir de 1992, os pais passaram a respeitar a escolha do filho. Hoje, pesquisas mostram que mais de 60% dos pais não conseguem controlar o futuro do filho.

Há diferença entre essas gerações quanto à visão do país para o futuro?

Os nascidos após a abertura econômica têm confiança e passaram a estudar com afinco, sem necessidade de ser cobrados. Fazem de tudo para estudar e ocupar sua posição na sociedade. Eles sabem que, no futuro, a China será um país muito desenvolvido.

Como essa nova geração lida com o boom econômico do país?

Eles sabem que existem várias opções de emprego. A grande mudança é que agora os jovens se arriscam mais e não gostam de permanecer no mesmo emprego a vida toda.

Qual o perfil de emprego que eles buscam?

Eles querem, primeiro, que o salário seja alto. Não se importam com plano de saúde ou previdência privada. Se puderem optar, abrem mão dos benefícios. Querem dinheiro na mão. Segundo, esse emprego tem de contribuir para que possam realizar seu sonho.

E qual é esse sonho?

A casa própria, mesmo que o rapaz seja solteiro. Depois, iniciar o próprio negócio.

Não é estranho que um jovem que abre mão de um emprego para trabalhar onde gosta dê prioridade à compra da casa própria?

Na China é importante para o rapaz que quer casar comprar um imóvel. É constrangedor casar e levar a mulher para morar num imóvel alugado.

A especulação imobiliária nas grandes cidades não mudou isso?

Com o aumento do preço dos imóveis, muitos jovens perceberam que dependiam da ajuda dos pais para ter sua própria casa, principalmente em Pequim e Xangai. Assim, passaram a depender dos pais para poder comprar um imóvel.

Existem diferenças significativas entre jovens chineses e ocidentais quanto ao consumismo?

Sim. Os ocidentais são mais racionais, sabem do que precisam e o que é supérfluo. Os jovens chineses compram as coisas só para ostentar. A segunda diferença é de onde vem esse dinheiro: os ocidentais fazem bicos e ganham dinheiro com o próprio esforço. Os chineses, até agora, só gastam o dinheiro dos pais.

E o que mudou em relação a temas como namoro e sexo?

Para os jovens pós-80, o que importa no relacionamento amoroso é o amor. Antes, se levava em conta o interesse familiar dos pais ou a posição social do rapaz. Isso acabou.

A abertura econômica veio acompanhada de uma liberação sexual?

O sexo é cada vez mais aberto. Antes, um namoro na escola secundária era motivo de crítica. Agora não só é aceito como virou alvo de inveja. Também houve uma abertura em relação a temas como sexo antes do casamento, que passou a ser algo natural. O mesmo ocorre com morar junto antes do casamento formal.

A liberalização inclui os jovens?

O grau de abertura sexual não pode ser comparado ao dos EUA e Europa. Uma pesquisa mostrou que só 7% dos alunos da escola secundária têm alguma experiência sexual. E não há educação sexual.

Quem é: Sun Yunxiao Sociólogo, ocupa o posto de vice-diretor do Centro de Pesquisa de Juventude e Criança da China

Ao lado de Xiao Jing Jian e Xi Jieying, organizou o livro Juventude Chinesa em Transição