Título: País é mais liberal do que vizinhos árabes
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2007, Internacional, p. A22

Mas impasse em negociações com Israel impede fim de isolamento

As ruas de Bab Touma, a área cristã de Damasco, têm bares, boates, restaurantes e muitos estrangeiros - incluindo americanos, que preferem estudar árabe na Síria por causa dos preços mais baixos. É comum ver casais de jovens sírios trocando beijos em público. Mesmo alguns raros homossexuais são vistos na capital síria.

Claro, há mulheres que cobrem a cabeça, mas é muito difícil ver uma mulher em Damasco usando burca. Esse cenário é completamente diferente da Arábia Saudita, um dos aliados dos EUA na região, onde as mulheres não têm direitos fundamentais e religiões que não sejam a islâmica são proibidas.

Na área econômica, o presidente Bashar Assad levou adiante algumas reformas, mas o país ainda está muito atrasado. Para piorar, o país recebeu até agora 2 milhões de refugiados iraquianos. Hoje, cerca de um terço dos habitantes de Damasco é de iraquianos. Além do governo sírio, que dá educação gratuita a todos e tenta ajudar na área da saúde, ninguém mais contribui.

Apesar da dura repressão política e da lenta abertura econômica, a Síria é um país calmo e seguro. De acordo com o comandante das Forças de Paz da ONU para as Colinas do Golan, o general Wolfgang Jilke, a área é calma e praticamente não existe violação de nenhum dos lados. Em visita a região, acompanhado de Jilke, o Estado verificou que o lado sírio é desmilitarizado na área sob controle da ONU.

O dilema sírio é aceitar negociar com Israel - e Assad diz estar disposto - ou não. O principal entrave nas negociações com os israelenses, de acordo com Jilke, não é a questão estratégica do Golan, e sim a água. Nas fracassadas negociações entre os dois países não houve acordo porque Hafez Assad, pais do atual presidente, queria ter acesso ao Mar da Galiléia. Israel disse não e dificilmente abrirá mão do controle da água na área.

Dependendo de que caminho tomar nessa encruzilhada, os sírios podem terminar em guerra ou em paz. O governo sírio se sente injustiçado. Há poucos anos o então ministro da Informação, Ahmad al-Hasan, afirmou que, ao contrario da Líbia - que normalizou relações com o Ocidente -, a Síria não é distante o suficiente de Israel e do Iraque, o que impediria uma boa relação com os países ocidentais.