Título: Mantega pede mudanças no FMI
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2007, Economia, p. B6
Ministro quer que Fundo considere PIB dos países no voto
O tamanho da economia deve ter um peso preponderante - pelo menos 50% - na determinação da cota e dos votos de cada país membro do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Pelo sistema em vigor, um pequeno país europeu pode ter uma cota maior que a do Brasil ou do México. A cota brasileira equivale hoje a 1,4% do capital do Fundo e seu poder de voto representa 1,38% do total. A Bélgica tem uma cota de 2,12% e um poder de voto de 2,09%.
O PIB brasileiro em 2006, superior a US$ 800 bilhões, quando convertido pelo câmbio oficial, foi mais que o do dobro do belga. Calculado com base na paridade do poder de compra, superou US$ 1,6 trilhão, enquanto o da Bélgica ficou em cerca de US$ 360 bilhões.
Segundo Mantega, será preciso calcular o PIB de cada país para determinar a cota, misturando os dois critérios. A estimativa baseada na paridade do poder de compra neutraliza certas diferenças de preços que afetam as comparações.
No sistema em vigor, outros fatores, como a abertura da economia, tem um grande peso na determinação das cotas. Brasil e outros países emergentes defendem uma extensa revisão dos critérios. Se a proposta for aceita, China, Brasil, Índia, México e Argentina poderão ter um peso muito maior nas decisões políticas do Fundo.
Num discurso agressivo, o ministro da Fazenda disse que ¿o Fundo se mostrou desaparelhado¿ para enfrentar a crise no mercado hipotecário e seu corpo técnico precisa ¿aprimorar seu conhecimento dos mercados financeiros, como vinha ressaltando o Escritório de Avaliação Independente, em alguns documentos recentes¿.
Horas depois, funcionários do Fundo distribuíram, em papel sem timbre, uma lista de 23 advertências sobre os riscos do mercado financeiro publicados em documentos da instituição desde abril de 2006. Disseram que não queriam dar a impressão de estar respondendo a críticas de um país membro.
¿Quando estouraram crises na América Latina e na Ásia¿, disse Mantega, ¿o FMI logo apareceu com um pacote padronizado de recomendações na área macroeconômica, na área financeira e em outros campos. Nenhuma inibição de expressar opiniões e ditar políticas. A posteriori, muitas dessas recomendações revelaram-se equivocadas ou duvidosas, para dizer o mínimo¿. Um dia antes, o FMI havia divulgado uma ampla análise das economias da Ásia. Dois anos depois da crise de 1997, a maioria dessas economias havia voltado a crescer vigorosamente, como foi lembrado no documento. Quase todas haviam seguido as orientações do Fundo.
¿A crise atual¿, segundo o ministro da Fazenda, ¿tem seu epicentro nos Estados Unidos e afetou, por enquanto, sobretudo os mercados financeiros americanos e europeus. O Fundo Monetário ¿mostrou-se excessivamente cauteloso em suas recomendações¿. O tratamento dos diversos países, sugeriu o ministro, revela uma política desequilibrada.