Título: Emergentes podem ter mais poder no FMI
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2007, Economia, p. B6

Comitê político da instituição aceita em parte as propostas das economias em desenvolvimento

O Comitê Monetário e Financeiro Internacional do FMI, o órgao político mais importante da instituição, recomendou que a nova distribuição de cotas e de poder de voto conceda mais influência aos países emergentes que têm conquistado maior peso na economia global. Essa mudanca refletirá mais fielmente a nova distribuição internacional de poder econômico, substituindo um critério definido há cerca de sessenta anos. O fator mais importante na composição da nova fórmula será o Produto Interno Bruto (PIB), isto é, o tamanho da economia.

O Comitê recomendou, além disso, que se leve em conta no cálculo, pelo menos parcialmente, o PIB calculado com base na paridade de poder de compra, que corrige em parte distorções do câmbio e de diferenças de preços entre países e torna as comparações mais precisas.

Essa decisão incorpora uma parte importante da proposta defendida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e por outros ministros de países em desenvolvimento, como Miguel Gustavo Peirano, da Argentina. A posição sustentada pelo Brasil foi discutida por Mantega com os delegados da China, da Índia e da África do Sul.

As recomendações aprovadas ontem deverão orientar os trabalhos nos próximos meses. Nenhuma decisão final foi tomada, enfatizou o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, numa entrevista coletiva, ontem à tarde, juntamente com o novo presidente do Comitê Monetário e Financeiro, o ministro italiano Tommaso Padoa-Schioppa. O Comitê é formado por 24 ministros que representam politicamente os 185 países membros da instituição.

De acordo com a orientação apresentada ontem, haverá não só uma redistribuição, mas também uma ampliação de cerca de 10% nas cotas.

O grupo recomendou que haja pelo menos uma duplicação das cotas básicas, que são atribuídas igualmente a todos os países e são mais significativas para os mais pobres e, portanto, menos capazes de contribuir para o capital do Fundo.

Essas recomendações, embora incorporem parte das sugestões dos emergentes, ainda poderão ser discutidas e revistas, quando se passar aos detalhes e houver uma idéia mais clara do alcance das mudanças.

A reforma do sistema de cotas e votos foi lançada oficialmente na assembléia do ano passado, em Cingapura, mas as discussões haviam começado alguns anos antes.

Para marcar a intenção de mudança, foram atribuídas em setembro de 2006 novas cotas à China, Coréia do Sul, Turquia e México. A justificativa para a escolha dessas economias foi a intenção de corrigir algumas das distorções mais óbvias na representação dos países membros do FMI. Com essa mudança, o México passou a ter uma cota de 1,45% e um poder de voto de 1,43%. O Brasil tem 1,4% das cotas e 1,38% do total de votos.

O ministro Mantega e seu colega indiano protestaram severamente, na época. No discurso de encerramento da reunião de Cingapura o diretor-gerente Rodrigo de Rato agradeceu a ambos, publicamente, por sua participação construtiva nos debates.

No comunicado oficial, o Comitê recomendou que o FMI continue trabalhando no acompanhamento do mercado financeiro e aprofunde sua análise das novas operações para identificar problemas futuros. A prevenção de crises dependerá, segundo os ministros, de uma cooperação maior entre os governos nacionais, o FMI, o Banco Internacional de Compensações (BIS, de Basiléia) e o Fórum de Estabilidade Financeira constituído pelos bancos centrais das sete maiores economias.