Título: Em São Carlos, só falta a uva
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2007, Economia, p. B14

Empresário investe na produção de Syrah e Merlot

Herdeiro de uma família de produtores de vinhos na Itália, o empresário paulista Victor Carlos Bonucci, de 61 anos, está investindo quase R$ 1 milhão na produção de uvas Syrah e Merlot em uma área inicial de 2,5 hectares em sua fazenda, em São Carlos (SP). Montou uma cantina com dois modernos tanques de fermentação em aço inox, de temperatura controlada e com capacidade para seis mil litros cada, equipou um laboratório para testes da bebida e construiu até uma ¿praça do vinho¿. Agora, só faltam as uvas.

A primeira safra está prevista para 2009. ¿Sou um homem ansioso¿, diz Bonucci, que se aposentou do mundo corporativo após 32 anos na Alpargatas. Enquanto espera as uvas, ele dedica 100% do tempo à leitura de tudo o que acha sobre vinhos e à troca de informações com especialistas do Instituto Cooperativo do Vinho, na França, e do departamento de enologia da Universidade Virginia Tech, nos Estados Unidos. ¿Tenho certeza de que vai dar certo. As inovações tecnológicas permitem produzir bons vinhos em qualquer parte do mundo.¿

Os produtores estão de olho, em parte, no próprio mercado paulista, que absorve 64% dos 140 milhões de litros de vinhos consumidos por ano no País. Embora o consumo per capita da bebida esteja estagnado, a venda de vinhos finos cresce e rouba mercado dos vinhos de mesa. Isso se deve muito à queda de preços dos importados, beneficiados pelo dólar baixo. A participação dos vinhos brasileiros no mercado nacional caiu de 50,5%, em 2001, para 32,7%, em 2006. Entre janeiro a agosto de 2007, chegou a 28,9%.

Um mercado liderado por argentinos e chilenos, que afetam até a produção de vinhos de mesa nacionais. Pode-se achar nos supermercados vinhos tintos argentinos, como o Torito, por R$ 4,50 a garrafa de 930 ml, e o Caric, por R$ 7,39 a garrafa de 700 ml. Eles competem com os nacionais achados a preços entre R$ 3,89, o Chapinha, até R$ 6,29, o Chalize, ambos em garrafas de 750 ml. Redes varejistas apostam em marcas próprias, o que barateia o custo, como os Cabernet Sauvignon e Malbec Saint Lambert/Carrefour, a R$ 7,99, a garrafa de 700 ml.

¿Além do barateamento dos importados, os vinhos de mesa também sofrem a concorrência dos chamados coquetéis de vinhos e sangrias que misturam até 50% de água e, portanto, são mais baratos¿, diz José Nunes, gerente de vendas da Passarin, produtora do Chapinha. Segundo ele, as vendas da bebida no mercado interno caíram 10% em 2 anos. Há 44 anos produzindo vinhos de mesa, a Passarin começou a investir agora nos vinhos finos. As primeiras safras de uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, plantadas em Jundiaí, estão previstas para 2008.