Título: Embrapa mapeia área para produzir vinhos finos em SP
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2007, Economia, p. B14

Esperança de êxito é tanta que as primeiras safras em escala comercial já estão previstas para 2008

Viticultores paulistas dos populares vinhos de mesa querem transformar São Paulo em um grande produtor de vinhos finos. No interior do Estado, parte da produção de uvas híbridas, com as quais são fabricados sucos e vinhos de mesa, cedeu espaço às chamadas vitis viníferas, de castas específicas, como Cabernet Sauvignon e Syrah. As primeiras safras estão previstas para 2008, algumas já em escala comercial.

As esperanças dos produtores paulistas de ter um vinho de melhor qualidade foram renovadas por um estudo da Embrapa, que comparou as características do solo e do clima em todo o Estado com aquelas das cem mais importantes regiões de vinhos do mundo, em 30 países.

É a primeira vez que se faz esse tipo de zoneamento, mostrando o potencial da viticultura paulista. O resultado permitiu identificar as áreas mais indicadas do Estado para tipos específicos de uvas usados na produção de vinhos finos. Os pesquisadores se surpreenderam ao constatar que apenas 12,5% da área do Estado tem clima inapto à produção de uvas para vinhos, por ter chuva em excesso.

No mapa da Embrapa, o norte paulista mistura traços de Tarragona, na Espanha, Córsega, na França, e Ravenna, na Itália, de onde saem tintos consagrados, como os espanhóis tempranillos, o francês Sciarello e o italiano Lambrusco. No Oeste, há um cantinho de Bordeaux, região francesa que se tornou denominação de vinho, com um blend de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, e a maior produtora da bebida no mundo. Ao todo, foram identificados traços de, pelo menos, 12 regiões vitivinícolas estrangeiras (veja mapa).

¿Quando você fala de vinho fino paulista, chegam a dar risada, mas o levantamento mostra que é possível produzir vinhos de boa qualidade no Estado¿, aposta o pesquisador Fábio Marin, da Embrapa Informática Agropecuária, de Campinas, que coordenou o estudo.

Mas isso desde que respeitada uma diferença: enquanto nessas regiões o clima para produção de vinhos é propício durante o verão, quando é feita tradicionalmente a colheita de uvas no mundo, em São Paulo isso ocorre no inverno, com temperaturas amenas e pouca chuva. Pesquisadores e produtores apostam na troca do ciclo da uva, já testada com sucesso em regiões da Índia e Tailândia, segundo Marin. Tradicionalmente, a poda se dá em julho e a colheita, entre dezembro e janeiro. Em São Paulo, a poda deve ocorrer em fevereiro e a colheita, em julho e agosto.

Em paralelo ao estudo da Embrapa, produtores paulistas lançaram o projeto SP Vinho, com apoio da Federação das Indústrias do Estado de ão Paulo (Fiesp), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, entre outras. A primeira fase identificou a cadeia produtiva no Estado. ¿Na segunda etapa, que se inicia agora, serão testadas 12 variedades uvas vitis viníferas em 4 municípios¿, revela Adriana Verdi, da Fapesp.

O projeto piloto teve início em 2001 na Vinícola Góes, tradicional produtora de vinhos de mesa, que testou 30 variedades de uva. A safra 2008 de Cabernet Sauvignon, produzidas em 10 dos 60 hectares de plantações da vinícola, já será destinada aos vinhos finos, para comercialização a partir de 2009. Segundo o presidente da empresa, Cláudio José de Góes, os investimentos somam R$ 1,2 milhão.