Título: Estudo afasta risco de pressão inflacionária
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2007, Economia, p. B1

De acordo com Departamento Econômico do Itaú, uso da capacidade hoje é inferior a 2004

A análise do Itaú fica ainda melhor para as perspectivas de crescimento sustentável, isto é, com inflação sob controle, da economia brasileira quando se leva em consideração outro trabalho anterior de Aurélio Bicalho. Nele, o economista mostra que, diferentemente do que acreditam muitos observadores, os dados de ocupação da capacidade atuais não indicam que a economia esteja num grau de risco inflacionário semelhante ao do segundo semestre de 2004.

Naquele momento, o Banco Central (BC) e o mercado foram surpreendidos pelo repique de inflação, provocando um doloroso reaperto da política monetária, que levou a Selic de 16% em setembro de 2004 para 19,75% em julho de 2005.

Em agosto de 2004, a ocupação da capacidade medida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) alcançou 82,5%, o mesmo nível de maio de 2007. Em termos da média trimestral do índice, os níveis também foram muito próximos nos dois momentos: 82,4% de julho a setembro de 2004, e 82,3% de junho a agosto de 2007.

Bicalho nota, porém, que alguns setores podem ter alta ocupação da capacidade sem ameaça inflacionária, o que ocorre quando, simultaneamente, a produção cai. Isto significa que não há pressão de demanda naquele segmento, mas simplesmente que as empresas estão deixando de investir, o que, levando em conta a depreciação dos equipamentos, pode até diminuir a capacidade instalada. Isto pode ocorrer, por exemplo, em indústrias muito afetadas pela invasão de importados.

O economista criou um medidor da atividade econômica que consiste no porcentual dos setores industriais que, ao mesmo tempo, têm aumento da capacidade ocupada e crescimento de produção. Ele fez testes com este indicador e constatou que ele prevê melhor o comportamento da inflação industrial do que o índice de ocupação da capacidade da CNI. O índice criado por Bicalho atingiu 89% em agosto de 2004, bem acima do nível de 77% em julho de 2007.

O melhor de tudo, porém, é que os modelos de Bicalho indicam que este medidor de atividade econômica já começa a cair em 2007, e deve chegar ao final de 2008 em 54%. 'Nós não estamos num pico de pressões como o de 2004, que indicava necessariamente uma aceleração da inflação', resume Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú. Por causa desta visão, aliada a outros fatores que influenciam a inflação, o departamento econômico do Itaú via espaço para um corte de 0,25 ponto nos juros básicos. O BC, preferiu colocar o pé no freio.