Título: Fundo soberano pode começar com US$ 10 bi
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2007, Economia, p. B5
Mantega diz que criação do fundo deveria ocorrer quando as reservas atingissem pelo menos US$ 170 bilhões
O fundo soberano que o governo brasileiro pretende constituir poderá entrar em operação com cerca de US$ 10 bilhões, quando as reservas cambiais chegarem a US$ 170 bilhões ou US$ 180 bilhões, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. As aplicações poderão ficar entre 10% e 15% do total de reservas, acrescentou. Mas isso, ressalvou o ministro, é só uma hipótese. Técnicos do Banco Central e do Ministério da Fazenda ainda estudam como será o fundo e sua criação dependerá de uma lei.
Será preciso mudar a legislação porque parte do dinheiro será destinada, provavelmente, a financiar a internacionalização de empresas brasileiras, mas não à compra de empresas, como no caso dos fundos operados por economias emergentes da Ásia.
O ministro fez um balanço positivo da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI). Houve, segundo ele, avanços importantes em seis pontos do programa de reforma política:
1) foi reconhecido que as economias emergentes dinâmicas devem ter uma representação maior;
2) o Produto Interno Bruto (PIB) deverá entrar com um peso de pelo menos 50% na nova fórmula para distribuição de cotas. Será o dobro do peso atual;
3) a fórmula deverá incorporar parcialmente o PIB calculado pela paridade de poder de compra - mudança favorável ao Brasil e a outros grandes emergentes;
4) será aumentada a cota básica dos países pobres;
5) o total das cotas deverá ter um aumento de pelo menos 10% e essa diferença irá integralmente para países em desenvolvimento;
6) os demais fatores da fórmula - abertura comercial, reservas e variabilidade das exportações - deverão ser definidos com os respectivos pesos até a reunião de abril do próximo ano.
Mantega contou que se havia reunido de manhã com o próximo diretor-gerente do FMI, o francês Dominique Strauss-Kahn, eleito no mês passado e com posse marcada para dia primeiro de novembro. Ele reafirmou, segundo o ministro, o compromisso de completar as reformas e de trabalhar pelo fortalecimento da posição das economias em desenvolvimento.
Strauss-Kahn disse também, segundo Mantega, que tentará ir em novembro à reunião do Grupo dos 20 (G-20) que congrega ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais de 19 países desenvolvidos e em desenvolvimento e da União Européia.O ministro brasileiro assumirá a coordenação do grupo na próxima reunião, marcada para os dias 17 e 18 de novembro na Cidade do Cabo. O atual coordenador é o ministro das Finanças da África do Sul, Trevor Howard.
Mantega reafirmou a pretensão de ver o Grupo dos 7, formado pelas maiores economias capitalistas, ampliado para incluir uns cinco ou seis grandes emergentes. O assunto foi discutido numa reunião do ministro brasileiro com os colegas da China, da Índia e da África do Sul, mas não foi possível uma declaração conjunto, admitiu, porque um dos outros três alegou precisar de autorização oficial para isso. O representante da China, segundo se apurou paralelamente, foi o que se recusou a assinar a manifestação.
O ministro Guido Mantega elogiou o novo presidente do Banco Mundial, o americano Robert Zoellick, por seu plano, recém-anunciado, de dar maior atenção aos países de renda média, reduzindo o custo dos financiamentos e facilitando a tramitação dos projetos.
MEIRELLES
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não acredita que existam 'grandes divergências' entre a estratégia de acumulação de reservas internacionais do Brasil e as orientações do Fundo Monetário Internacional. 'O FMI está mais preocupado com a estratégia dos países, particularmente asiáticos, que estão controlando a cotação das moedas.'
'Das moedas asiáticas, o que o fundo vê como manipulação de moedas é um outro problema, principalmente pelo enfraquecimento do dólar', disse. Meirelles destaca que a estratégia do Brasil não tem por objetivo influenciar diretamente a trajetória da taxa de câmbio.
O exemplo, explicou, é a evolução da taxa de câmbio nos últimos anos. 'O processo de acumulação de reservas é parte de uma estratégia anunciada pelo BC desde 2004, quando iniciou programa de reservas e é um programa extremamente bem-sucedido.' R.K. e N.F.