Título: Presidente da Cisco é liberado pela Justiça
Autor: Pinheiro, Alexandre; Garattoni, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2007, Economia, p. B8

Em nota oficial, empresa diz que Ripper reassumirá suas funções

O presidente da Cisco Brasil, Pedro Ripper, deixou a carceragem da Polinter, em Campo Grande, na zona oeste do Rio, 20 minutos depois do fim do prazo da prisão temporária de que foi alvo na Operação Persona, da Polícia Federal.

A multinacional americana é investigada como beneficiária de um esquema de sonegação de impostos.

Poucos minutos antes da meia-noite de sábado, um grupo de pessoas chegou à Polinter para buscar o executivo. Eles chegaram à carceragem em três carros: um Pajero, um Ômega e um Corola. Uma mulher loura desceu de um dos automóveis e pediu que os policias abrissem o portão da unidade.

Os três carros entraram e o portão foi mantido fechado, impedindo que fotógrafos e cinegrafistas registrassem a saída de Ripper.

O executivo embarcou no Corola e sentou-se no banco de trás, ao lado de uma mulher morena. Na saída, à 0h20, fotógrafos conseguiram registrar sua passagem, no interior do carro, apesar da película escura nos vidros. Os outros veículos seguiram o Corola.

O Estado procurou Ripper em sua casa, em Ipanema (zona sul), mas ele não foi encontrado. Pelo interfone, uma mulher que se identificou como empregada disse que Ripper e a mulher haviam saído no início da manhã. Ela não soube dizer se o casal havia viajado.

NOTA OFICIAL

Ontem, a Cisco divulgou nota comentando a libertação de seus funcionários - entre eles o presidente da empresa, Pedro Ripper. Segundo o texto, nenhuma acusação formal foi feita contra eles até o momento.

A seguir, a íntegra:

'A Cisco comunica com satisfação que três de seus funcionários, detidos pelas autoridades brasileiras nesta semana, foram liberados. Nenhuma acusação formal foi feita contra eles até o momento, e a empresa está mantendo seus esforços em auxiliá-los.

Neste momento, a maior preocupação da empresa continua a ser com seus funcionários e suas famílias, enquanto eles se concentram em retomar suas rotinas. A empresa aguarda pelo retorno de Pedro Ripper às suas funções como presidente da Cisco no Brasil.

Permanecemos, também, concentrados nos nossos negócios, trabalhando próximos aos nossos parceiros para garantir a continuidade e a excelência do atendimento aos nossos clientes no Brasil. A empresa se mantém, ainda, cooperando com as autoridades.'

PRODUTOS SUBFATURADOS

O escândalo envolvendo a Cisco estourou na semana passada, quando a Polícia Federal prendeu os diretores da empresa e apreendeu US$ 45 milhões em mercadorias na Mude - distribuidora da Cisco no Brasil e acusada de participar do esquema de sonegação fiscal.

De acordo com a Receita Federal, o esquema se baseava no subfaturamento de mercadorias - que entravam no País a custo abaixo do real, para evitar ou reduzir o pagamento de imposto de importação.

Um dos supostos truques era explorar a diferença de tributação entre os hardwares (os computadores, roteadores e demais aparelhos de informática) e os softwares (os programas que rodam nesses aparelhos).

A Cisco é acusada de subfaturar os preços do hardware e compensar aumentando o valor do software - dessa forma, como o software é menos tributado, a empresa conseguiria pagar menos imposto ao todo.

A 'INDUSTRIALIZAÇÃO'

Segundo gravações telefônicas divulgada s pela PF, a distribuidora Mude também teria criado outra estratégia para sonegar impostos. O truque seria importar os equipamentos de informática da Cisco e fazer neles alguma modificação mínima, sem importância técnica - como instalar um cabo desnecessário, por exemplo.

Aí, a empresa poderia alegar que os aparelhos haviam sido parcialmente montados no País. E, com isso, ter direito a reduções no imposto devido.

PAGAMENTOS IRREGULARES

Além de sonegar Imposto de Importação, a Cisco é acusada de remunerar seus funcionários de forma irregular.

Supostamente, os executivos da empresa recebiam seus salários por meio de empresas fantasmas, que só existiam no papel, mas estavam cadastradas no Simples (regime de tributação para microempresas).

Dessa maneira, pagavam menos imposto - cerca de 14%, ante os 27,5% descontados na folha de pagamento das pessoas físicas. Ao todo, R$ 1,5 bilhão em impostos teriam sido sonegados no esquema fraudulento, que estaria em vigor desde 2002.