Título: Juro bancário sobe com expectativa de 'pausa' no Copom
Autor: Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2007, Economia, p. B1

Depois de cair de 35,7% para 35,5% em setembro, taxa voltou aos 35,7% nos primeiros 8 dias úteis de outubr

Antes mesmo da decisão da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 11,25% ao ano, a taxa média de juros dos empréstimos bancários já havia aumentado. Depois de cair, em setembro, de 35,7% para 35,5% ao ano, voltou aos 35,7% ao ano nos primeiros oito dias úteis de outubro, considerando a média de todas as linhas de crédito.

A reação do mercado, portanto, foi bem mais rápida do que normalmente ocorre quando a Selic cai. Nesse caso, a queda dos juros de mercado costuma vir com defasagem bem maior.

'Não é nenhuma surpresa que o sistema financeiro seja muito mais ágil na elevação do que na redução dos juros' , diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). 'Isso se reflete no fantástico resultado dos bancos, cujos porcentuais de lucro relativo ao patrimônio são desproporcionais a qualquer outro país do mundo.'

Os bancos anteciparam uma expectativa de alta na inflação futura', diz o economista Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. 'Trata-se de um ajuste, pois faz parte do mercado subir o juro quando sobe a expectativa de alta nos preços'.

Para ele, o governo perdeu uma chance histórica de acelerar o ritmo de queda dos juros nos últimos meses, quando o cenário era amplamente favorável. 'A Selic já poderia estar em 10,75% ou até 10,50% ao ano, em vez dos atuais 11,25%' , afirma o economista.

Para o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central (BC), Altamir Lopes, o espaço para a queda dos juros dos empréstimos bancários ficou reduzido com a decisão do Copom. 'A partir de agora, qualquer redução dos juros das operações de crédito dependerá de uma queda do spread', disse Altamir, referindo-se à diferença entre os custos de captação e aplicação de recursos. Segundo ele, o custo de captação tende a se estabilizar com a pausa na queda da Selic, que serve de base para os juros do mercado.

'A elevação não pode ainda ser vista como tendência, pois estamos falando de apenas oito dias úteis', disse. A alta, segundo ele, foi puxada pela elevação de 1,1 ponto porcentual no juro do crédito pessoal. 'Esse movimento pode ter sido provocado pela quitação de empréstimos com desconto em folha com recursos do 13º salário.'

Em setembro, o governo antecipou metade do 13º de segurados do INSS, que são clientes do crédito consignado. Com a quitação desses empréstimos, mais baratos, a estatística do BC passou a refletir com maior peso os juros do crédito direto ao consumidor, mais altos.

A redução do ritmo de queda dos juros, segundo Altamir, não deverá interromper a trajetória de crescimento do crédito. Para ele, o aumento dos prazos e o aquecimento da demanda interna devem sustentar a alta do volume dos empréstimos. Apesar disso, ele admitiu a possibilidade de redução no ritmo de expansão da oferta de crédito.