Título: Filho lança projeto de Memorial de Portinari
Autor: Henrique, Bras
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2007, Metropole, p. C6

Família quer captar R$ 7 milhões para construir obra em Brodowski

Se depender do filho João Cândido e de investimentos de cerca de R$ 7 milhões, que serão buscados na iniciativa privada, os restos mortais do pintor Cândido Portinari sairão do Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, e irão para um mausoléu em Brodowski, na região de Ribeirão Preto, interior paulista. O Memorial Cândido Portinari, idealizado em 2002 e com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, foi apresentado ontem, em Ribeirão Preto. O espaço de 3.600 metros quadrados deverá ser construído numa área da Fazenda Santa Rosa, a cerca de 10 km da cidade, onde o pintor nasceu em 1903.

Não existe documento do pintor, mas o filho entendeu que, num dos poemas escritos pelo pai, já no fim da vida, Portinari dizia que gostaria que seu corpo ficasse em Brodowski, onde viveu até os 15 anos. ¿Pedi ao anjo as asas emprestadas para sobrevoar o meu povoado¿, diz um trecho do poema O Menino e o Povoado, publicado no livro Poemas de Portinari, pela Editoria José Olympio, já esgotado. ¿Interpreto isso como um desejo dele de estar ali (em Brodowski)¿, diz João Cândido.

Os poemas do pintor, que poucos conhecem, foram selecionados por Manuel Bandeira, e republicados (e esgotados) há alguns anos pela EPTV, afiliada da TV Globo no interior paulista. Mas, no início de 2008, a Desiderata, do Rio, lançará a terceira edição do livro no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

O filho do pintor procurou Niemeyer, que gratuitamente fez o projeto arquitetônico do memorial, usando as cores da bandeira brasileira e uma abóbada laranja para simbolizar o sol. ¿A idéia não era limitar a um túmulo, mas ter algo para o futuro¿, diz João Cândido. Assim, um auditório para 500 lugares e uma área de 1 mil metros quadrados para exposições foram projetados. A intenção é, inclusive, usar o espaço para bolsistas e estudantes estudarem não só as obras de Portinari quanto as de outros artistas. ¿Poderemos transformar Brodowski numa cidade voltada às artes plásticas, como Gramado (RS) é voltada ao cinema¿, compara João Cândido.

Uma área da fazenda onde Portinari nasceu já foi cedida pelo atual dono, e um representante do Banco Mundial estaria interessado em conhecer melhor o projeto. Talvez surja daí o investimento para o memorial.

A prefeitura de Brodowski, que tem mais de 21 mil habitantes, também quer explorar o turismo local a partir das atrações de seu cidadão ilustre. Até a recuperação dos trilhos de uma estrada de ferro poderá ocorrer após a construção do memorial (o prazo da obra seria de seis a oito meses).

Se tudo sair como o planejado, poderá ser feita uma réplica, em cerâmica, do painel Guerra e Paz, pois a original da obra de Portinari contra a violência está na sede na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos. ¿Essa idéia é um sonho...¿, diz João Cândido. Esse painel foi uma das últimas obras de Portinari. O pintor, mesmo envenenado pelas tintas que usava, decidiu fazê-la.