Título: Divisão da oposição beneficia Cristina
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2007, Internacional, p. A19
As pesquisas de opinião indicam que nas eleições de hoje na Argentina mais da metade do eleitorado votará contra a candidata da situação, Cristina Fernández de Kirchner. Apesar dos votos que serão dados majoritariamente aos candidatos da oposição, a primeira-dama deve ser eleita presidente da república.
As pesquisas indicam que Cristina receberá entre 43% dos votos e 46,7%. A Constituição argentina - que possui um sui generis modelo de primeiro turno eleitoral - garante a vitória do candidato que obtiver mais de 45% dos votos, ou pelo menos 40% dos votos e uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado. Neste segundo caso, a vitória de Cristina no primeiro turno seria possível, já que os votos dados para a oposição, pelo que indicam as pesquisas, serão altamente fragmentados.
No total, entre 50% e 57% dos argentinos votariam contra o governo e sua candidata. No entanto, as intenções de voto para cada um dos quatro principais candidatos da oposição oscilam entre 5% e 18%, não mais do que isso. Além dos quatro, existem outros nove candidatos opositores, com representatividade ainda menor nas urnas.
DESUNIÃO
As lideranças da oposição não se esforçaram em concretizar um grande aliança contra o governo do presidente Néstor Kirchner e sua mulher. Os analistas destacam que os egos dos opositores estavam inflados demais para possibilitar qualquer tipo de acordo.
Desanimados com as poucas chances de vencer a eleição, os oposicionistas desataram uma briga pelo segundo lugar, já que esse posto designaria o líder da oposição nos próximos anos. Essa disputa é protagonizada por Elisa Carrió, da centro-esquerdista Coalizão Cívica, e pelo ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, candidato do centro-progressista Uma União Avançada. Carrió tem entre 16% e quase 22% das intenções de voto, enquanto Lavagna oscila ao redor de 14%.
O único ponto de união entre os candidatos da oposição é a decisão de realizar um monitoramento comum para evitar eventuais fraudes de Kirchner. Com ironia, o colunista econômico Marcelo Zlotogwiazda afirma que o maior opositor do governo foi o tomate, alimento tão caro que desatou uma grande discussão sobre a inflação que assola a Argentina - e Kirchner tenta camuflar. A questão chegou a causar um bem- sucedido boicote popular no último mês de campanha, que reduziu seu preço pela metade.
BOATOS
Por precaução, alertados pelos rumores de que o governo realizaria uma minidesvalorização do peso, os argentinos começaram a buscar refúgio no dólar, que chegou a 3,20 pesos na cotação de sexta-feira. Em julho, quando começou a campanha, a moeda americana estava cotada a 3,10 pesos.
Cristina Kirchner: Nascida em La Plata, cursou a faculdade de Direito, onde conheceu Néstor Kirchner - que após o golpe de Estado de 1976 a levou para sua terra natal, Santa Cruz, na Patagônia. Nos anos 80, ele foi eleito prefeito de Río Gallegos e ela, deputada. Quando Néstor se tornou governador, Cristina chegou ao Senado. Nos últimos quatro anos, ela participou das decisões mais cruciais do gabinete da presidência, ao lado do marido. Vaidosa, arrogante e autoritária, segundo seus críticos, é chamada de 'Rainha Cristina', título de sua biografia. O colunista político James Nielsen a define como 'uma megera domada'.
Elisa Carrió: Ex-Miss da Província do Chaco, casou-se aos 17 anos e foi mãe pouco depois. Em 1994, seu pai, caudilho local da União Cívica Radical (UCR), estava doente e pediu à filha que participasse em seu lugar da Constituinte de 1994. Elisa largou então a advocacia e, apadrinhada pelo pai e pelo ex-presidente Raúl Alfonsín, ingressou na política. Ela ganhou fama por denunciar casos de corrupção. Em 2000, fundou o partido Alternativa por uma República Igualitária (ARI). No início de 2007, deixou esse partido e criou a Coalizão Cívica, que promete promover uma 'limpeza ética' na Argentina.
Roberto Lavagna: 'El Pálido' é o apelido sarcástico que Néstor Kirchner colocou em seu ex-ministro da Economia. Sem carisma, Lavagna não tem o perfil ideal de político para um país acostumado com caudilhos de pulso forte. Sua ascensão política veio em março de 2002. Quando o país afundava na crise, o então presidente Eduardo Duhalde procurava desesperadamente um ministro, mas ninguém aceitava o cargo. Lavagna aceitou. Seu sucesso em retirar a Argentina do fundo do poço deu-lhe popularidade. Em 2003, Kirchner herdou Lavagna de Duhalde. Mas ambos discordavam sobre políticas econômicas e, em 2005, Lavagna saiu do governo.
Alberto Rodríguez Saá: A base política do candidato é a Província de San Luis, região central do país, onde se alterna no governo com seu irmão Adolfo desde 1983. Alberto é famoso por afirmar que tem contatos telepáticos com os habitantes do planeta Xilium. Popular, foi reeleito governador há poucos meses com mais de 80% dos votos. O candidato, considerado 'pitoresco', decidiu transformar sua província em uma espécie de Hollywood argentina, dando subsídios a cineastas. Foi assim que conheceu a atriz Ester Goris, famosa por ter interpretado Evita Perón, com quem está namorando.
PRINCIPAIS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA
Cristina Kirchner: Nascida em La Plata, cursou a faculdade de Direito, onde conheceu Néstor Kirchner - que após o golpe de Estado de 1976 a levou para sua terra natal, Santa Cruz, na Patagônia. Nos anos 80, ele foi eleito prefeito de Río Gallegos e ela, deputada. Quando Néstor se tornou governador, Cristina chegou ao Senado. Nos últimos quatro anos, ela participou das decisões mais cruciais do gabinete da presidência, ao lado do marido. Vaidosa, arrogante e autoritária, segundo seus críticos, é chamada de ¿Rainha Cristina¿, título de sua biografia. O colunista político James Nielsen a define como ¿uma megera domada¿.
Elisa Carrió: Ex-Miss da Província do Chaco, casou-se aos 17 anos e foi mãe pouco depois. Em 1994, seu pai, caudilho local da União Cívica Radical (UCR), estava doente e pediu à filha que participasse em seu lugar da Constituinte de 1994. Elisa largou então a advocacia e, apadrinhada pelo pai e pelo ex-presidente Raúl Alfonsín, ingressou na política. Ela ganhou fama por denunciar casos de corrupção. Em 2000, fundou o partido Alternativa por uma República Igualitária (ARI). No início de 2007, deixou esse partido e criou a Coalizão Cívica, que promete promover uma ¿limpeza ética¿ na Argentina.
Roberto Lavagna: ¿El Pálido¿ é o apelido sarcástico que Néstor Kirchner colocou em seu ex-ministro da Economia. Sem carisma, Lavagna não tem o perfil ideal de político para um país acostumado com caudilhos de pulso forte. Sua ascensão política veio em março de 2002. Quando o país afundava na crise, o então presidente Eduardo Duhalde procurava desesperadamente um ministro, mas ninguém aceitava o cargo. Lavagna aceitou. Seu sucesso em retirar a Argentina do fundo do poço deu-lhe popularidade. Em 2003, Kirchner herdou Lavagna de Duhalde. Mas ambos discordavam sobre políticas econômicas e, em 2005, Lavagna saiu do governo.
Alberto Rodríguez Saá: A base política do candidato é a Província de San Luis, região central do país, onde se alterna no governo com seu irmão Adolfo desde 1983. Alberto é famoso por afirmar que tem contatos telepáticos com os habitantes do planeta Xilium. Popular, foi reeleito governador há poucos meses com mais de 80% dos votos. O candidato, considerado ¿pitoresco¿, decidiu transformar sua província em uma espécie de Hollywood argentina, dando subsídios a cineastas. Foi assim que conheceu a atriz Ester Goris, famosa por ter interpretado Evita Perón, com quem está namorando.