Título: Congresso fortalece líder de Xangai
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2007, Internacional, p. A12

Ritual do anúncio da nova cúpula do Partido Comunista indica que Xi Jinping é o favorito para suceder a Hu em 2012

Pequim - Xi Jinping, filho de um líder da Revolução Comunista de 1949, e Li Keqiang, protegido do presidente da China, Hu Jintao, emergiram ontem como os prováveis sucessores do próprio Hu e do primeiro-ministro Wen Jiabao no comando da quarta maior economia do planeta. Os dois foram anunciados com especial deferência pelo presidente chinês durante a apresentação à imprensa da nova cúpula do Partido Comunista, composta por nove integrantes - dos quais quatro foram substituídos -, numa cerimônia cuidadosamente coreografada e repleta de significados numa sala anexa do Grande Salão do Povo, em Pequim. O fato de o partido não ter fechado em torno de um único nome mostra que a sucessão só deverá ser decidida mais perto de 2012, quando Hu deverá se aposentar.

Tendo o presidente à frente, os integrantes do novo Comitê Permanente do Politburo - o principal órgão do Comitê Central do PC e núcleo do poder na China - entraram no salão em fila indiana e passos coordenados, com transmissão ao vivo pela TV. Até então, a formação da nova elite dirigente era desconhecida - a eleição foi feita ao final do 17º Congresso do Partido Comunista chinês, encerrado no domingo. Após breve discurso, Hu apresentou os nomes um a um. ¿Os camaradas Xi Jinping e Li Keqiang são relativamente bem jovens¿, afirmou Hu, no único comentário informal a centenas de jornalistas durante o pronunciamento, indicando que os recém-promovidos representavam a nova geração de líderes.

Xi, engenheiro de 54 anos, é chefe do PC em Xangai e alinhado com o grupo do ex-presidente Jiang Zemin, que ainda mantém influência no partido. Li, economista, tem 52 anos e lidera o PC na Província de Liaoning. Ele fez carreira na Juventude Comunista - feudo político de Hu, com quem trabalhou há 20 anos e é considerado seu padrinho.

Hu não deixou claro quem seria o preferido, mas no livreto com os perfis dos eleitos, entregue aos jornalistas após a cerimônia, os nomes são relacionados segundo sua posição na hierarquia do partido. Xi aparece em sexto lugar, atrás dos cincos que já faziam parte do Comitê Permanente do Politburo e à frente de Li e dos outros dois promovidos. No seu currículo, Xi é citado como ¿membro do secretariado do Comitê Central¿ - o mesmo cargo ocupado por Hu antes de chegar ao poder -, indicando que é o favorito para tornar-se o líder da quinta geração, em 2012. Li, que também era cotado, aparece apenas como ¿membro do Comitê Permanente do Politburo¿.

O desfecho do congresso - realizado a cada cinco anos e que marca a troca de cadeiras na hierarquia do partido - encerrou meses de especulação sobre os nomes da nova elite dirigente, mas confirmou que o segundo mandato de Hu será marcado por uma disputa entre as várias correntes do PC. Numa mostra de como a política chinesa é complexa, dependendo do ponto de vista, o presidente chinês saiu vencedor ou derrotado. A seu favor, Hu foi reeleito para os três principais cargos do país (secretário-geral do PC, chefe de Estado e, o mais importante, comandante da Comissão Militar Central), viu sua teoria de ¿desenvolvimento científico sustentável¿ e ¿sociedade harmoniosa¿ ser incluída no programa do partido e conseguiu livrar-se do vice-presidente Zeng Qinghong, um rival político. Zeng, de 68 anos, não foi re- eleito para o Comitê Central.

Em contrapartida, os outros dois novos membros do Comitê Permanente, He Guoqiang e Zhou Yongkang, são afilhados de Zeng - o que mostra a existência de algum acordo de Hu com seu vice. Outra constatação foi o fortalecimento do grupo ligado a Jiang Zemin, que ainda atua com força nos bastidores. Além de emplacar Xi como favorito à sucessão, Jiang reelegeu três aliados: Wu Bangguo, presidente da Assembléia Nacional Popular e número 2 na hierarquia; Jia Qinglin, presidente da Coordenação Consultiva Política do Povo Chinês; e Li Changchun, que ocupa o importante cargo de ministro da Propaganda.

Desses, a reeleição de Jia foi considerada uma derrota para Hu. Sua saída era dada como certa, pois seu currículo foi manchado por um escândalo de corrupção quando chefiava o PC na Província de Fujian, nos anos 90. O caso envolveu sua mulher e, embora não tenha sido formalmente acusado, esperava-se que Jia, de 68 anos, saísse do núcleo do poder pelo critério de idade. Sua permanência, além de fortalecer o grupo de Jiang, causou embaraços a Hu, que fez do combate à corrupção uma bandeira de seu governo.

Hu também teve de digerir outra baixa - a não-reeleição de Wu Yi, a única mulher a integrar o Politburo. Agora resta ao presidente, pouco afeito à abertura política e conhecido pelo controle rígido da máquina partidária, negociar com o grupo de Jiang - que defende o aprofundamento da abertura econômica. O futuro da China vai depender de quem sair vencedor dessa disputa.

OS NOVOS INTEGRANTES DA CÚPULA DO PC

Xi Jinping, 54 anos: Secretário-geral do PC em Xangai, centro financeiro da China, desde março, após seu antecessor ser afastado por corrupção. Foi líder do partido nas Províncias de Fujian e Zhejiang. Engenheiro formado pela Universidade de Tsinghua, de Pequim, e filho de um revolucionário, é considerado um aliado do ex-presidente Jiang Zemin.

Li Keqiang, 52 anos: Líder do PC na Província de Liaoning, teve reconhecidos seus esforços em revitalizar a região, um pólo da indústria estatal afetado pelo desemprego após as reformas econômicas. Fez direito e é Ph.D em economia pela Universidade de Pequim. Foi secretário da Liga da Juventude Comunista e é considerado um protegido de Hu Jintao.

He Guoqiang, 64 anos: Engenheiro químico, trabalhou na indústria nos anos 70 e 80. No PC, comandou um influente e obscuro departamento que investigava funcionários antes de serem promovidos. Graças às boas relações com o ex-presidente Jiang Zemin, sobreviveu a um escândalo de contrabando na Província de Fujian, onde era subchefe do PC.

Zhou Yongkang, 65 anos: Engenheiro, foi gerente-geral da estatal Corporação Nacional de Petróleo da China. Era o líder do PC na Província de Sichuan até assumir o Ministério da Segurança Pública. Ganhou fama como um homem implacável contra o crime, mas que, ao mesmo tempo, não tolerava abusos da polícia, o que fez aumentar o prestígio da instituição.