Título: Ampliar o Mercosul é prioridade, diz presidente eleita
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/10/2007, Internacional, p. A16

Em entrevista na TV, Cristina também aponta Alemanha, 'um país exportador, com alta tecnologia', como modelo

Dias depois de ter apontado o Brasil como modelo a ser seguido pela Argentina, a presidente eleita Cristina Kirchner afirmou na segunda-feira à noite que gostaria que seu país se parecesse com a Alemanha. 'Gostaria que (a Argentina) fosse um país exportador como a Alemanha, com um alto grau de tecnologia, que é o que a diferencia, o valor agregado, a inovação tecnológica', disse ela em entrevista à TV Todo Noticias.

Sem entrar em detalhes, Cristina disse que as prioridades de seu governo na área de política externa serão a América Latina e a ampliação do Mercosul. Segundo ela, a questão energética 'é o grande assunto do futuro. A equação energética da América Latina é fundamental'.

A presidente eleita também retrucou as acusações da oposição de que o governo de seu marido, Néstor Kirchner, manipula o índice da inflação. Economistas, empresários e líderes oposicionistas afirmam que a inflação neste ano ficará entre 20% e 25%. Cristina disse que ficará 'entre 7% e 11%'. Segundo ela, durante a campanha eleitoral 'a oposição exagerou' em relação à inflação. Cristina disse que o governo já enviou aos EUA uma delegação de técnicos que analisarão as formas americanas de cálculo de inflação. A idéia é adotar na Argentina um sistema similar. 'Ninguém questionará a metodologia da primeira economia do mundo', afirmou.

Ao avaliar os quase 45% dos votos que recebeu nas eleições, Cristina disse: 'Foi um reconhecimento, mas não para mim. Foi um reconhecimento à gestão do presidente Kirchner. Participei desse projeto, mas ele foi a nau capitânia.'

A presidente eleita indicou que o clima tenso com a imprensa deve continuar. Indagada sobre a relação que terá com a mídia, ela respondeu: 'Se voltarem a ser meios de comunicação e não de oposição, será perfeita.'

Desde segunda-feira, o presidente Kirchner brinca com os conhecidos apresentando-se com um cargo diferente, ironizando a própria fama de não ter papas na língua e ser antidiplomático: 'Sou o novo diretor de protocolo da presidência. Só recebo, cumprimento e vou embora.' Na entrevista, a presidente eleita, ao ouvir que seu marido está fazendo esse gracejo, gargalhou: 'Isso eu posso desmentir definitivamente... ele nunca será diretor de protocolo.' Mas Cristina esquivou-se de explicar qual seria o papel de seu marido no futuro governo. 'Ele é um animal político que ama profundamente a política, seu país, e tem um grande compromisso com a Argentina. Sempre quis ser o melhor. O melhor advogado, o melhor prefeito, o melhor governador. Está em sua natureza. Caso amanhã dispute uma corrida, vai querer vencer. Eu também. É uma atitude perante a vida.'

Ontem à noite, num discurso na Casa Rosada, Kirchner disse que Cristina 'será uma grande presidente para todos os argentinos'. Segundo ele, o país 'entra em uma etapa de continuidade da mudança'. Kirchner brincou sobre seu futuro a partir de 10 de dezembro, quando entregará a presidência para sua mulher: 'Eu vou para um café literário.' Brincadeiras à parte, ele deixou claro que, como 'primeiro-cavalheiro', pretende ser o principal assessor da presidente Cristina: 'Vamos trabalhar juntos para que seja o melhor de todos os governos desde 1983', quando acabou a ditadura militar.

FRASES Cristina Kirchner Presidente eleita da Argentina

¿(Os votos que recebi) foram um reconhecimento à gestão do presidente Kirchner¿ ¿Se (os meios de comunicação) voltarem a ser de comunicação, e não de oposição, (minha relação com eles) será perfeita¿