Título: Fundo soberano gera polêmica
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2007, Economia, p. B5

Brasil pode aderir à onda internacional de investimentos agressivos em fundos

O Brasil está chegando atrasado na febre dos fundos soberanos que, segundo o FMI, podem acumular US$ 10 trilhões até 2012, já tendo alcançado algo entre US$ 2 trilhões e US$ 3 trilhões. A discussão sobre a conveniência de criar um fundo desse tipo, lançada recentemente pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, deriva do fato que as reservas internacionais, que atingiram US$ 166,6 bi na quinta-feira, já se aproximam de um volume considerado mais que suficiente para garantir a estabilidade externa da economia.

Nessa visão, o acúmulo de reservas que exceder o necessário para a estabilidade do País pode ser usado para objetivos estratégicos, como o de financiar a expansão externa das grandes empresas brasileiras, ou a infra-estrutura necessária à integração sul-americana.

Uma abordagem menos ambiciosa seria a de que o Banco Central (BC) tentasse apenas conseguir uma rentabilidade um pouco maior para as reservas. As aplicações das reservas internacionais são feitas normalmente em títulos de renda fixa governamentais ou certificados de depósitos de bancos internacionais com máxima classificação de risco. Como contrapartida da sua grande segurança, esses investimentos têm rentabilidade muito baixa. Se o BC aumentasse ligeiramente os parâmetros de risco para a aplicação de uma parte das reservas seria possível pensar em retornos mais atraentes, acima dos títulos longos do Tesouro americano, que não superam 5%.

'Se a decisão do governo for a de continuar a acumular reservas, o que ele não é obrigado a fazer, talvez possa ser interessante investir um pouco desse dinheiro em ativos de risco', diz Armínio Fraga, ex-presidente do BC, e hoje à frente da Gávea Investimentos, empresa de administração de recursos.

Os fundos soberanos são constituídos por parte das reservas de países altamente superavitários no seu comércio exterior, na sua grande maioria exportadores de petróleo e gás. Mais de 20 países têm esse tipo de fundo, sendo que o maior deles, o de Abu Dhabi, acumula mais de US$ 600 bilhões. Mas os países asiáticos exportadores de manufaturados também entraram neste segmento, como o fundo da China, lançado este ano, com um patrimônio inicial de US$ 200 milhões. Outros fundos famosos são o russo Fundo de Estabilização do Petróleo, com US$ 127 bi, e o Fundo de Pensão do Governo da Noruega, com US$ 322 bi.

Embora façam investimentos também em títulos do tesouro americano, os fundos soberanos têm mandato para buscar outros ativos, como ações, participações e até controle de empresas em outros países. É por essa característica que vem aumentado a preocupação dos governos dos países em que os fundos fazem as suas compras. O temor é que a motivação das operações, que em última instância são controladas pelos governos dos países detentores dos fundos, possam ir além da lógica econômica, e ter como objetivo o domínio de tecnologia em setores como o de defesa. No Brasil, o debate gera polêmica.

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