Título: Viana cobra mais diálogo do Planalto com Senado
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2007, Nacional, p. A4

Para ele, governo é `preconceituoso¿ com Congresso

Depois de convencer o PMDB de que não quer tirar do partido o comando do Congresso, o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), disse ontem ao Estado que a tarefa emergencial é tirar a Casa ¿do fundo do poço¿. Admitindo que tanto a recuperação da imagem do Senado quanto a prorrogação da CPMF passam pela reafirmação das alianças, Viana advertiu: ¿Embora o governo tenha o apoio nominal de 52 senadores, na prática não passa de 43 votos.¿ Tanto é verdade que o Planalto teve de negociar - e muito - com o PSDB um acordo para o imposto sobre cheque.

¿O governo é preconceituoso em relação ao Parlamento e está sem interlocutor com o Senado¿, queixa-se Viana. Ele avalia que o momento é grave, porque não há quem dialogue com os senadores em nome do Planalto e, pior, o governo ¿não valoriza os bons parlamentares e não faz a boa aliança indispensável à governabilidade¿.

Viana não apenas rechaça com veemência a idéia de um eventual terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como teme ¿os efeitos nocivos ao Parlamento e ao País¿ da movimentação de setores do PT nesse sentido. ¿O terceiro mandato é um ato de casuísmo, uma violência frontal à ordem e à estabilidade constitucional¿, diz. A seu ver, a idéia de um plebiscito sobre o assunto, defendida pelo deputado petista Devanir Ribeiro (SP), é um ¿ataque à estabilidade¿ do País.

Embora o presidente seja o grande beneficiário da tese, Viana não responsabiliza Lula pelo movimento de setores do partido. Ao contrário, faz questão de destacar que ¿acredita plenamente¿ em Lula e ¿não tem possibilidade¿ de seu envolvimento com a proposta.

COBRANÇA

¿Se tem falha no presidente Lula, é a de não entender que é preciso socorrer o Parlamento nessa hora em que o Senado chegou ao fundo do poço. E valorizá-lo com muita pressa¿, cobra Viana. Ele diz que não há nada mais triste para quem acredita no processo legislativo e na instituição que ver a relação entre o governo, o Congresso e sociedade reduzida à negociação de emendas ao Orçamento.

Viana reconhece que o presidente ¿nada de braçadas¿ e está de bem com o população, como poucos na história do País. ¿Mas os que o apóiam no Congresso não estão¿, pondera. ¿Cabe ao presidente Lula, neste momento, valorizar os seus e estabelecer um diálogo consistente com a oposição.¿

Ele entende que ¿a grandeza de quem está forte¿ é chamar ao diálogo os que estão a seu lado, ¿mesmo que fragilizados¿, e debater qualquer tema de cabeça erguida. ¿E que prestígio político essa base governista tem?¿, indaga ele, para responder com um monossílabo: ¿Nenhum.¿

Preocupado com a mágoa do maior partido da base governista, o PMDB, por conta das negociações entre o PSDB e o Planalto, o senador avalia que há erros de parte a parte. ¿O governo faz um movimento equivocado e não valoriza os bons parlamentares e a boa aliança indispensável à governabilidade porque tem preconceito. É como se a Casa fosse de picaretas, de despreparados.¿

Os ministros, que no início iam ao Senado, tomavam café com os senadores e os convidavam para visitas aos Estados, já não fazem isto. ¿Infelizmente, o governo é preconceituoso em relação ao Parlamento. A impressão que se tem é de que o governo está tão bem com a opinião pública que só procura o Congresso quando precisa, em alguma votação importante.¿

Viana acredita que a oposição também vive uma crise forte, já que não consegue ser crítica e propositiva ao mesmo tempo. ¿A CPMF é uma exceção porque, fora dela, a oposição não consegue manter uma agenda interativa com o governo.¿

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