Título: Mensalão de Zeca do PT teria R$ 25 mil para Delcídio
Autor: Naves, Joao; Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2007, Nacional, p. A9

De acordo com livro-caixa apreendido por promotores de MS, valor era repassado mensalmente a senador

Entre 2005 e 2006, o senador Delcídio Amaral (PT-MS)teria recebido 24 parcelas fixas de R$ 25 mil do mensalão do ex-governador Zeca do PT. A informação foi divulgada ontem pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul, que esmiúça a administração de José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT - dois mandatos consecutivos, de 1999 a 2006. Inicialmente, a promotoria havia apontado um único registro em nome de Delcídio.

¿É inacreditável, é uma farsa¿, reagiu o senador. ¿Naquele período eu estava na CPI dos Correios. Com todos os problemas que enfrentei no partido, eu ainda iria operar um mensalão? É um negócio maluco.¿

Seis promotores de Justiça compõem a força-tarefa que investiga o caso e atribui a Zeca do PT crimes de uso de documento falso e peculato por meio de desvio de verbas de publicidade. Os promotores suspeitam que o então governador criou um mensalão para apaniguados e autoridades de escalões diversos, entre políticos, secretários e servidores estaduais e municipais.

O Ministério Público calcula que o desvio pode ter alcançado R$ 30 milhões. Os promotores afirmam que Zeca do PT comandou um ¿grandioso esquema¿ no Estado. O operador teria sido Raufi Marques, ex-chefe da Casa Civil do governo de Mato Grosso do Sul.

O caixa 2, presumem os promotores, era mantido com a verba destinada a agências de propaganda, às quais foram pagos R$ 56,8 milhões entre 2005 e 2006. De acordo com o Ministério Público, notas fiscais adulteradas, despesas superfaturadas e outros meios ilícitos deram base às operações.

LIVROS

A pista que a promotoria segue são dois livros com registros de datas, valores e nomes que teriam sido contemplados, alguns com depósitos fixos, outros com depósitos eventuais. Para o promotor Marcos Antônio Sottoriva, ¿alguém ficou rico nesse esquema¿.

Um diário, de capa preta e 100 páginas, foi encontrado na residência de Salete Terezinha de Luca, ex-ordenadora de Despesas da Secretaria de Governo de Mato Grosso do Sul. O outro livro foi localizado na casa de uma amiga de Ivanete Leite Martins, que foi assessora da Secretaria de Coordenação-Geral e é testemunha-chave do Ministério Público.

A lista que os promotores acreditam ser um indício da existência do mensalão no governo Zeca do PT inclui os nomes de Delcídio e dos deputados federais por Mato Grosso do Sul Vander Loubet e Antônio Carlos Biffi, ambos do PT.

Sobrinho de Zeca, Loubet teria recebido R$ 50 mil por mês durante dois anos. O deputado nega a acusação.

O engenheiro agrônomo Egon Krakhecke, que foi vice-governador na gestão de Zeca do PT, teria recebido R$ 30 mil mensais, de acordo com a lista. Egon, que atualmente é secretário de Extrativismo e Desenvolvimento do Ministério do Meio Ambiente, repudiou a acusação. ¿Nem sei o que é isso, nunca recebi nada.¿

Como os livros contêm nomes de senadores e deputados federais, a Promotoria de Mato Grosso do Sul enviou-os à Procuradoria-Geral da República, em Brasília, que tem competência constitucional para investigar denúncias contra autoridades e parlamentares federais e pedir abertura de processo.

Além de Loubet e Biffi, são citados o ex-deputado federal João Grandão - que teria recebido R$ 25 mil por mês, de acordo com as anotações feitas à mão no livro -, o ex-deputado estadual Raul Freixes (R$ 35 mil) e os deputados estaduais Paulo Corrêa (R$ 5,5 mil), Ari Artuzi (R$ 4 mil) e Antônio Carlos Arroyo (R$ 5,5 mil).

COMPLEMENTAÇÃO

¿Conforme se depreende da leitura de tais documentos, ficou evidenciada a existência de caixa 2 para pagamento mensal a parlamentares e funcionários públicos como `complementação de salário¿ e para despesas particulares do ex-governador José Orcírio Miranda dos Santos¿, sustentam os promotores em ofício à 2ª Vara Criminal de Campo Grande.

Os promotores já apresentaram à Justiça duas denúncias contra Zeca do PT e seus assessores na época. Uma ação foi embargada pelo Tribunal de Justiça em caráter liminar, até que seja julgado seu mérito. O TJ concedeu habeas-corpus pedido por Newley Amarilla, advogado do ex-governador.

Para os promotores, o fato de os livros terem sido guardados na residência de ex-funcionárias públicas ¿de maneira clandestina, fora da contabilidade oficial do Estado¿, reforça a suspeita de que existia um ¿controle paralelo de gastos pelos denunciados¿.

Links Patrocinados