Título: Condenados 21 por ataques em Madri
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2007, Internacional, p. A16

Três pegam mais de 42 mil anos de prisão, sete são absolvidos e sentenças dos demais não passam dos 23 anos

Madri - A Justiça espanhola condenou ontem 21 dos 28 acusados pelos atentados de março de 2004 em Madri. Três dos acusados foram condenados a penas superiores a 42 mil anos de prisão, mas, por causa da legislação espanhola, não permanecerão mais do que 40 anos detidos pelos ataques, cuja autoria foi reivindicada pela rede Al-Qaeda. As sentenças dos demais não passam de 23 anos de prisão.

Em 11 de março de 2004, às 7h40 locais, dez bombas explodiram em quatro trens de subúrbio cheios de trabalhadores e estudantes que seguiam para a estação madrilenha de Atocha, matando 191 pessoas e deixando mais de 1.800 feridos.

Muitas vítimas ficaram decepcionadas com a absolvição de um dos supostos mentores dos atentados, Rabei Ousmane Sayed Ahmed, conhecido como Mohamed, o Egípcio. Ele foi absolvido porque não se provou que tenha sido o idealizador do crime, como alegava a promotoria. Mas cumpre pena na Itália por pertencer a uma rede terrorista. A presidente da Associação 11-M Afetados do Terrorismo, Pilar Manjón, disse que apelará da sentença para que os sete absolvidos sejam condenados.

O primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero disse que ¿foi feita justiça¿ com as condenações. ¿Essa será a resposta para os que tentarem alterar pela força¿ a livre convivência dos espanhóis, afirmou.

As maiores penas - 42.924 e 42.922 anos de prisão - foram impostas aos marroquinos Jamal Zougam e Otman el-Gnaoui, considerados os autores dos 191 assassinatos e 1.856 tentativas de homicídio. O espanhol José Emilio Suárez Trahorras, que forneceu os explosivos para os atentados, foi sentenciado a 34.715 anos de prisão por sua implicação nos ataques. Os 19 outros condenados por envolvimento foram sentenciados a no máximo 23 anos de cadeia.

Parentes das vítimas ficaram chocados com o fato de as sentenças serem muito inferiores às solicitadas pela promotoria. Isabel Presa, que perdeu seu filho caçula em uma das explosões, disse que as penas foram muito brandas. ¿Não sou um juiz ou um advogado, mas isso é vergonhoso, ultrajante¿, disse, chorando.

A maior surpresa foi o fato de dois homens originalmente acusados de planejar os ataques - Hassan el-Haski e Youssef Belhadj - serem condenados apenas por pertencer a um grupo terrorista, não pelas mortes em Madri. Eles receberam penas de 15 e 12 anos de prisão, respectivamente. Outros quatro dos principais acusados - apontados como autores intelectuais e materiais e colaboradores - foram condenados a penas entre 10 e 18 anos de prisão, apesar de a promotoria ter pedido 39 mil anos para cada um.

Segundo a sentença, 21 homens - entre eles 9 espanhóis - participaram dos atentados: os 7 que se suicidaram em uma casa em Leganés (perto de Madri) durante uma ação policial três semanas após os ataques e 14 dos indiciados. O tribunal anunciou compensações entre 30 mil e 1,5 milhão para as famílias das vítimas.

O juiz Javier Gómez Bermúdez disse que não há nenhuma prova de que a organização separatista basca ETA tenha tido algo a ver com os ataques. Na época, o governo conservador de José María Aznar imediatamente acusou a ETA pelos atentados, apesar de evidências indicarem que haviam sido cometidos por uma célula islâmica. O Partido Popular, de Aznar, foi derrotado na eleição realizada três dias depois.

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