Título: Karaokê e bate-boca no jantar de Demóstenes
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2007, Nacional, p. A4

Rodrigo Maia discute com Mares Guia e Jobim por assédio ao DEM

Apesar de serem poucos governistas em meio à maioria dos convidados da oposição, os ministros da Defesa, Nelson Jobim, e das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, pareciam perfeitamente enturmados no jantar que o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) ofereceu anteontem em sua casa. No canto da sala, a Banda PM Show - criada pelo próprio Demóstenes com integrantes da Polícia Militar de Goiás - tocava clássicos da música brasileira. De microfone em punho, o anfitrião cantava sozinho ou acompanhado pelas senadoras Kátia Abreu (DEM-TO) e Lúcia Vânia (PSDB-GO) ou por quem mais se atrevesse.

Demóstenes nem percebeu quando, no meio do jantar, o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), foi se juntar aos ministros que conversavam com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e a líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), numa sala separada. E o clima, que era de pura cordialidade, ficou pesado.

Ao se deparar com Mares Guia, Rodrigo cobrou explicações pela informação, publicada no jornal O Globo, de que a senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) teria ido negociar no Palácio do Planalto sua absolvição no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em troca do voto favorável à CPMF.

¿Vocês precisam respeitar mais a oposição¿, disse o deputado. ¿Isso é futrica¿, rebateu Mares Guia, emendando uma justificativa. ¿A senadora é médica e, por isso, me disse que concorda com a CPMF.¿ Mas Rodrigo insistiu: ¿O governo tem de parar com essas cooptações.¿ Jobim, então, interveio. ¿Você está dando muito valor a uma notinha¿, amenizou. ¿Eu tenho de dar, é o que fica do fato¿, argumentou o deputado. ¿Pois, no site do seu partido, eu sou chamado de `canastrão da sucuri¿. E aí?¿, contrapôs o ministro da Defesa. ¿Eu não tenho responsabilidade pelo site¿, respondeu Rodrigo antes de deixar o local.

Diante da resposta do deputado, Jobim devolveu: ¿Eu não diria isso, mas lá no Rio Grande se chama isso de um guri de merda.¿ Mais contemporizador, Mares Guia completou: ¿É o professor de Deus. Sou amigo do pai dele, mas não sei o que está acontecendo.¿ Jarbas ouviu tudo e ficou calado. Roseana reclamou: ¿Isso vai sobrar para mim¿, afirmou, saindo atrás de Rodrigo. ¿Não voto o Orçamento, esquece o Orçamento¿, avisou o deputado à líder do governo.

Na sala maior, a festa continuou sem interrupção. O novo diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura (DNIT), Luiz Antonio Pagot, foi aplaudido de pé, quando - de olhos fechados e mão no peito -- cantou, acompanhado pela PM Show, Pedro Nadie, música argentina vencedora, em 1970, do 5º Festival Internacional da Canção. Dali para frente, além de Demóstenes, o microfone ficou por conta de Roseana (London, London), Eduardo Suplicy (Blowing in the Wind, de Bob Dylan) e Kátia Abreu (Araguaia, Ouça e uma série de músicas românticas).