Título: Presidente diz que não reduz carga tributária
Autor: Monteiro, Tânia., Nossa, Leonencio., Otta,Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2007, Nacional, p. A5

A carga tributária não deve cair no curto prazo. Esse foi o recado dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião de três horas que teve com cerca de 100 grandes empresários do País. ¿O presidente reconhece que o Brasil, no momento, ainda precisa desta carga tributária¿, contou o presidente da Votorantim Industrial, José Roberto Ermírio de Moraes Neto, depois do encontro.

Segundo José Ermírio Neto, o presidente argumentou que a arrecadação de impostos é essencial para dar continuidade aos programas sociais de transferência de renda. ¿A ênfase deste governo são os programas sociais, que têm mostrado resultados significativos em regiões menos favorecidas¿, disse. ¿A questão, agora, é o governo sinalizar que, no longo prazo, a carga tributária possa vir a diminuir e, conseqüentemente, que o Estado se adapte a essa nova carga tributária, porque este é o caminho para uma receita de crescimento ainda mais sustentado e mais vigoroso.¿

Na reunião, porém, os sinais foram na direção contrária. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou com um gráfico que as despesas com pessoal hoje estão abaixo da média do período de 1995 a 2002, de 5,22% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2003, o gasto caiu para 4,93%. A previsão é de que fique em 4,74% do PIB este ano e em 4,76% em 2008.

Os números não convenceram a empresária Luiza Trajano, diretora da rede Magazine Luiza. ¿Fui lá na frente e falei que essa conta não é a conta que nós empresários fazemos¿, contou Luiza. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, tentou pôr panos quentes: ¿O fato de o governo arrecadar mais não significa que ele gaste mais, obrigatoriamente. Pode ser que ele tenha a necessidade de gastar mais, o que é diferente.¿

Para os empresários, a redução de gastos é a melhor forma de atingir o objetivo principal, de cortar a carga tributária. Esse foi o centro das cobranças na reunião - mais até do que as críticas à prorrogação da CPMF, vista por eles como algo a ser tratado no conjunto da reforma tributária. Lula garantiu aos empresários que o governo não tem ¿nenhum senão¿ à reforma tributária e pediu ajuda para impulsioná-la. ¿Vamos mandá-la para o Congresso quando entendermos que o Congresso está pronto para votar e que os governadores vão aceitar¿, disse.

Sobre a reforma trabalhista,ele acha que falta aproximar as posições de empregados e empregadores. ¿É uma coisa que não está bem digerida.¿ Segundo Lula, não se pode fazer uma reforma para ¿negar tudo o que tem¿ ou manter tudo como está.

CHINA

Ao pedir aos presentes que façam investimentos na África e na América Latina, Lula comparou o mercado dos Estados Unidos a um baile com 100 homens e 30 mulheres. ¿É difícil conseguir alguém para dançar. Já nos mercados emergentes, a chance de dançar é grande.¿

Ele pediu ousadia na busca de novos mercados. Como exemplo, citou a Indonésia, cujo comércio com o Brasil é de apenas US$ 1 bilhão. Essa estratégia, explicou, é necessária para conter a China. ¿A China é um bom parceiro. Mas um bom parceiro que faz a gente ficar 24 horas com palitinho no olho para não dormir, se não o bicho pega.¿