Título: EUA punirão quem negociar com Irã
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2007, Internacional, p. A16
Washington anuncia política de sanções à empresas que mantiverem relações comerciais com a Guarda Revolucionária
Washington
O governo dos EUA anunciou ontem um novo pacote de sanções contra o Irã. As restrições recaem sobre a Guarda Revolucionária, força armada paralela do país, e a sua divisão de elite, Al-Quds, acusada pelos americanos de apoiar organizações terroristas e militantes xiitas no Iraque. As novas medidas, as mais duras aplicadas pelos EUA desde 1979, o ano da Revolução Islâmica, quando os dois países cortaram relações diplomáticas, foram anunciadas pela secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, e pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson.
A Casa Branca acusa a Guarda Revolucionária de ¿disseminar armas de destruição em massa¿. Com as novas sanções, os americanos podem congelar os bens de cidadãos e companhias dos EUA que mantenham negócios com a organização militar, que participa em diversos setores da economia iraniana (leia na página 16). É a primeira vez que os EUA tomam medidas contra um ramo das Forças Armadas de um país soberano.
A sanções estendem-se contra o Ministério da Defesa do Irã e mais de 20 instituições iranianas, privadas e públicas, incluindo três dos principais bancos estatais, o Banco Melli, a maior instituição financeira do país, e os bancos Mellat e Saderat, em uma tentativa de aumentar a pressão para que Teerã desista de seu programa nuclear e limite suas atividades terroristas.
Diante do fracasso das negociações diplomáticas com o Irã e da lentidão para que sanções econômicas mais rigorosas sejam aprovadas contra o país no âmbito do Conselho de Segurança da ONU, a Casa Branca adotou uma ação unilateral para diminuir o poderio de uma das mais influentes e ricas instituições iranianas.
¿É muito provável que, se você tiver negócios com o Irã, você tenha negócios com a Guarda Revolucionária¿, disse Paulson. Em setembro, a Câmara dos Representantes aprovou a inclusão da Guarda Revolucionária na lista de organizações consideradas terroristas pelo governo americano em razão do apoio a militantes no Iraque, Líbano e Afeganistão. Na ocasião, os deputados também autorizaram punições contra empresas estrangeiras, com filiais nos EUA, que invistam no Irã.
Segundo Condoleezza Rice, os EUA estão fazendo de tudo para buscar uma solução diplomática. No ano passado, a Casa Branca pediu a Teerã que aceitasse desistir de seu programa nuclear em troca de incentivos econômicos.
¿Estaremos abertos para discutir qualquer assunto. Mas, se os governantes iranianos escolherem continuar pelo caminho do confronto, os EUA irão agir com a comunidade internacional para resistir a essas ameaças¿, afirmou Condoleezza.
EFEITOS
Rumores sobre uma ação militar dos EUA contra o Irã têm-se tornado mais intensos, especialmente por parte da ala conservadora de Washington, que gostaria de ver George W. Bush agir contra Teerã antes de deixar a Casa Branca, em janeiro de 2009.
Para a maioria dos especialistas, no entanto, Bush está mergulhado em uma guerra sem fim no Iraque e com problemas no Afeganistão - o que torna pouco provável que leve os americanos a uma nova ofensiva militar.
Matthew Levitt, especialista em terrorismo internacional do Instituto Washington, diz que as sanções contra os bancos iranianos praticamente impossibilitam o país de realizar transações em dólares com instituições financeiras estrangeiras.
Ao aumentar o isolamento iraniano do sistema financeiro internacional, a Casa Branca espera pressionar empresas e bancos de outras nações, principalmente da Europa, a desistir de realizar investimentos no país.
Karim Sadjadpour, especialista em Irã do Instituto Carnegie Endowment, no entanto, disse que os efeitos práticos das sanções serão limitados. ¿Não é provável que a Força Al-Quds tenha transações com firmas de Wall Street como a Goldman Sachs ou o J.P. Morgan. Não acredito que ela saia financeiramente enfraquecida¿, disse.
AP E REUTERS
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