Título: Laranjas envolvidos no caso Cisco tinham 20 empresas registradas
Autor: Godoy, Marelo; Auler, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2007, Economia, p. B1

Em nome de 13 pessoas investigadas pela Polícia Federal existem firmas em São Paulo, na Bahia e no exterior

Os mesmo laranjas do esquema de empresas envolvidas no caso Cisco foram utilizados por empresas de outros ramos de atividade. Em nome dos suspeitos estão resgistradas 20 empresas, não só de informática, mas também de factoring, equipamentos, alimentos e comércio de produtos agrícolas e peças e acessórios de automóveis.

Levantamento realizado na Junta Comercial de São Paulo e na Receita Federal com os nomes de 13 laranjas descobertos pela PF durante a Operação Persona mostra que em nome deles existem 20 empresas em São Paulo, na Bahia e em países como Bahamas e Panamá. A soma do capital declarado por 12 empresas à junta comercial alcança o valor de R$ 15 milhões. O levantamento mostrou ainda que os laranjas têm como sócios 11 pessoas, e a maioria das quais não mora nos lugares declarados à junta.

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal relacionaram 77 empresas com sede no Brasil e 29 com sede no exterior como envolvidas diretamente no esquema de fraude que deu um prejuízo de R$ 1,5 bilhão ao governo. Mas os investigadores sabem que há muitas outras que participaram da fraude. As empresas do esquema ligado à Cisco serviram, segundo o MPF e a PF, para blindar a multinacional no Brasil e nos Estados Unidos. Era por meio delas que se fazia a importação de equipamentos da empresa, a distribuição de produtos e a lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio de executivos.

Apontado como um dos 'sócios interpostos do esquema', como a PF chama os laranjas, Alvaro Keyiti Nakashima tinha como endereço em 2003 um apartamento no Parque Cecap, em Guarulhos, avaliado em R$ 80 mil - no mesmo conjunto morava outro acusado de ser laranja, Marcos Zenatti. Foi naquele ano que Nakashima abriu a Prime Tecnologia Industrial e Comércio Ltda. - capital declarado de R$ 3 milhões - em sociedade com a offshore Software Links Limited, das Bahamas.

A Prime tinha sede na Vila Maria, na zona norte de São Paulo, e filial em Ilhéus (BA). Ela faria parte do esquema da Cisco para importar equipamentos prontos e simular a montagem na Bahia para aproveitar vantagens fiscais dadas naquele Estado às empresas de informática. Fechada após a Operação Persona, a Prime informou que só se manifestará no fim da investigação.

Nakashima aparece ainda como sócio de outras três empresas. No que devia ser a sede de uma delas, a Recuperadora de Tambores Julian, na Avenida Martins Júnior, no Parque dos Laranjais, em Guarulhos, há um matagal. Rubens Moral, seu sócio na Clamac Comercial Ltda, de Botucatu, do ramo de alimentos, não mora no endereço declarado à junta. Por fim, Nakashima é sócio da ARM Factoring Fomento Comercial Ltda., empresa com capital de R$ 6 milhões, cuja sede devia ser em Guarulhos - no endereço, ninguém a conhece. O Estado procurou Nakashima nos seus endereços e nos das empresas, mas não o achou.

Além dele, outros laranjas têm endereço de Guarulhos. Um deles é Walter Flamengo Salles. Ele morava em uma casa alugada quando se tornou sócio da Brastec, com capital de R$ 2,5 milhões. Nela, aparece como sócio de seu filho, Luiz Fernando Magatti Salles. 'Meus advogados vão procurar o senhor', limitou-se a dizer Luiz quando questionado sobre como seus nomes foram parar nos papéis da Brastec.