Título: Procon quer rastrear em SP leite adulterado
Autor: Vallone, Giuliana., Salvador, Fabíola
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2007, Vida&, p. A20

Órgãos de Minas e nacionais avaliam como retirar produto do mercado

O Procon de São Paulo, entidade de defesa do consumidor, anunciou ontem que solicitará às principais empresas de leite em caixas do tipo longa-vida que prestem esclarecimentos sobre o produto que compraram de duas cooperativas de Minas acusadas de adulterá-lo acrescentando soda cáustica e água oxigenada. O Procon-SP pretende saber se leite irregular está sendo vendido no Estado de São Paulo.

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Também ontem, representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Vigilância Sanitária de Minas Gerais, do Ministério da Agricultura e do Ministério Público do Estado de Minas Gerais realizaram uma reunião em Belo Horizonte e decidiram viajar a Uberaba para obter detalhes da operação e, depois, adotar as providências necessárias. Segundo a Anvisa, as empresas poderão sofrer sanções que vão de advertência a multa de até R$ 1,5 milhão.

No mesmo dia, duas comissões da Câmara dos Deputados - a de Agricultura e Pecuária e a de Defesa do Consumidor - aprovaram requerimentos para a realização de uma audiência pública conjunta a respeito do tema. Ainda não há data definida.

Numa operação realizada na terça-feira passada, a Polícia Federal prendeu 27 pessoas acusadas de crime contra a saúde pública. Elas são acusadas de acrescentar substâncias não permitidas ao leite vendido em caixas do tipo longa-vida. Os produtos adulterados, de acordo com investigações do Ministério Público Federal, saíam das cooperativas Casmil, na cidade de Passos (sudoeste de Minas), e Coopervale, em Uberaba (Triângulo Mineiro). O esquema existia havia dois anos, segundo os investigadores. A ação policial foi batizada de Operação Ouro Branco.

A Polícia Federal acredita que o esquema não tenha se limitado às duas cooperativas de Minas. Como parte das investigações, serão coletadas pelo menos 50 amostras de leite de várias empresas em todo o País.

REDUÇÃO DE CUSTOS

Ilegal, a adição de soda cáustica e de água oxigenada ao leite torna mais barato o processo de industrialização. Quando o produto tem microrganismos em excesso, em decorrência da falta de higiene, a água oxigenada age esterilizando-o. Substitui a refrigeração, que é o procedimento recomendado, mas mais caro. A soda cáustica acaba com a acidez do leite provocada por microrganismos - como o leite não está ácido, tem-se a impressão de que está livre de impurezas.

Segundo o técnico em laticínios Antônio José Xavier, da AEX Consultoria, a soda cáustica e a água oxigenada nas baixas quantidades adicionadas ao leite não provocam sozinhas danos à saúde. O problema é o fato de esses produtos químicos serem utilizados para ¿mascarar um leite que foi produzido sem as mínimas condições de higiene¿. ¿Isso oculta problemas como rebanho doente e falta de refrigeração adequada. É um crime que cometem para reduzir custos¿, critica o especialista.

Outra tática utilizada na adulteração era acrescentar água ao leite para aumentar o volume. Uma das conseqüências dessa prática é a diluição das proteínas - ou seja, cada caixa contém menos nutrientes do que deveria.

EMBALAGENS LACRADAS

De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais, até agora não surgiram informações sobre pessoas que tenham sofrido problemas de saúde em conseqüência do consumo de leite adulterado.

Na Coopervale, em Uberaba, aproximadamente 1 milhão de litros estão interditados para consumo. As embalagens de leite integral da Centenário (ligada à Coopervale) foram lacradas nos supermercados da cidade do Triângulo Mineiro. Para o produto voltar a ser comercializado, será necessário um resultado favorável da análise laboratorial.