Título: Couro mais nobre ganha espaço na exportação
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2007, Economia, p. B13

Hoje 65% das vendas externas são de produtos de maior preço

Mudou o perfil da exportação e da produção do couro brasileiro. Neste ano, a venda externa do produto deve atingir US$ 2,3 bilhões, cifra recorde e 23% maior em relação ao ano anterior. Hoje mais da metade (65%) das exportações são de couros de maior valor, acabados ou semi-acabados, ante 40% em 1998, segundo uma radiografia do setor feita pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CIBC).

'Tenho tido sucesso no mercado externo, apesar da valorização do real em relação ao dólar porque exporto couro acabado', afirma Pedro Gasparetto, presidente do curtume Brasitânia, de Mogi das Cruzes (SP). Ele explica que consegue um preço cerca de 20% maior em dólar no mercado externo em relação a matéria-prima bruta, isto é, o couro salgado e wet blue, porque o seu produto é mais elaborado. O empresário conta que, nos últimos tempos, até conseguiu aumentar preços em dólar para compensar parte da valorização do real.

Voltado para a produção de couro especiais, que até passam por uma produção artesanal, Gasparetto explica que a maior parte da sua clientela no exterior é formada por indústrias de móveis e decoração. Com produção de 40 mil metros quadrados de peles por mês, entre 25% e 30% do produto é exportado. Entre países asiáticos e os Estados Unidos, o curtume tem dez clientes estrangeiros na indústria de decoração e de móveis. Cinco anos atrás, diz Gasparetto, 100% das exportações dos couros brasileiros eram destinadas a indústrias de calçados.

O estudo do CIBC mostra que 60% das exportações de couro brasileiro vão para as indústrias de móveis e automobilística para fabricar estofamento. 'Há um novo perfil da indústria curtidora. Os fabricantes de calçados foram para as matérias-primas sintéticas', afirma o diretor executivo da entidade, Luiz Bittencourt.

O descolamento entre o setor calçadista e de couro fica claro no estudo que cruzou as exportações dos dois setores. Em 2000, a exportação de couros equivalia a 48,14% das vendas externas de calçados. 'Em 2006, o nível de exportação do setor de couros é praticamente o mesmo (97,6%) do setor de calçados', afirma Bittencourt.

ESTOFADOS

Ele ressalta que houve mudanças também no perfil das vendas domésticas. Elas representaram 22,7% da produção de 44,4 milhões de peças em 2006. Atualmente, a maior fatia do couro destinado ao mercado interno(42%) é para produção de móveis, seguido pelos calçados (31%), que respondiam pela maior fatia no passado. 'O couro não tinha características para uso em estofados. Essa inversão ocorreu de 2002 para cá.'

Bittencourt destaca que a mudança do perfil ocorreu porque os curtumes decidiram aplicar recursos para produzir mercadorias de maior valor. Desde 2000, os empresários do setor investiram US$ 300 milhões de recursos próprios para modernizar a produção.

O dinheiro, segundo ele, foi gasto na compra de equipamentos modernos importados , principalmente da Itália, para melhorar o acabamento e a produtividade. Outra parte dos recursos foi destinada à capacitação da mão-de-obra.

O curtume Vitapelli, de Presidente Prudente (SP), o segundo maior exportador de couros do País,já investiu mais de US$ 15 milhões na importação de máquinas para melhorar a produtividade. 'Passamos a trabalhar com equipamentos italianos que ampliaram em 30% a produtividade. Segundo o presidente da empresa, Nilson Riga Vitale, nos próximos dois anos serão gastos mais US$ 10 milhões na qualificação da mão-de-obra e em equipamentos para agregar valor ao produto.