Título: Chuva de processos pode cair sobre a OHL na Espanha
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2007, Economia, p. B15

Vencedora de concessões no Brasil é acusada de atrasar obras e governo diz que empresa é 'inepta'

A empresa espanhola OHL, que venceu o leilão para concessão de rodovias federais no Brasil, está sendo bombardeada por partidos políticos, companhias e autoridades na Espanha por não entregar obras no prazo estipulado e por incidentes que estão afetando milhares de pessoas. A crise pode até derrubar a ministra do Desenvolvimento da Espanha, Magdalena Álvarez, por ter permitido que a situação chegasse a esse ponto.

A crise ocorre por causa dos atrasos nas obras para a construção de um trem de alta velocidade entre Barcelona e Madri. Segundo o jornal El Pais, a OHL poderá ser alvo de uma 'chuva de processos' por ter provocado prejuízos a outras empresas e ainda por não cumprir os contratos com o governo, que havia licitado a obra.

A ferrovia de alta velocidade entre Madri e Barcelona é considerada a principal obra de infra-estrutura do governo de José Luis Zapatero. Com os atrasos, o ministério encarregado das obras poderá adiar a data de entrega da linha, que estava inicialmente prevista para 21 de dezembro.

A gota d'água ocorreu no último sábado, quando um incidente nas obras de um dos trechos de construção de um túnel acabou provocando um caos em toda a malha ferroviária nas proximidades de Barcelona.

Algumas linhas já em operação tiveram de ser suspensas para permitir que os trabalhos fossem feitos para a linha rápida. Com o atraso, as interrupções serão mantidas por outros 15 dias, afetando milhares de passageiros.

O governo da Catalunha também já indicou que responsabilizará a OHL. Apenas em um dia, 400 trens foram cancelados na região de Barcelona, afetando 86 mil passageiros. O governo central acusou a empresa de 'inepta' e o Ministério de Desenvolvimento estuda processar a OHL. A Renfe (estatal ferroviária) também prevê uma ação contra a companhia por prejuízos.

A empresa alega que o incidente ocorreu diante da 'complexidade de uma obra subterrânea que afeta várias infra-estruturas'. Uma das alegações era de que a empresa estaria atrasando as obras porque lidava com terrenos de propriedade de uma filial do Grupo Villar Mir, do mesmo dono da OHL. A companhia desmente a vinculação e diz que está comprometida em executar a obra 'no mínimo prazo possível, com as maiores garantias de segurança'.

A crise ganhou proporções políticas e Zapatero terá de ir ao Congresso para explicar os problemas com a OHL. A ministra Álvarez também ataca a OHL, mas reconhece parte da responsabilidade de sua pasta por ter contratado a empresa.

A oposição quer a demissão da ministra. Para o líder da oposição, Mariano Rajoy, o governo está buscando um culpado pela crise, mas é o principal responsável.