Título: PT insiste, mas Sarney recusa suceder Renan
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2007, Nacional, p. A6

Diante da negativa do ex-presidente, os peemedebistas José Maranhão (PB) e Edison Lobão (MA) são os nomes mais fortes para presidir Senado

O senador José Sarney (PMDB-AP) recusou um novo apelo do PT para suceder Renan Calheiros (PMDB-AL), licenciado desde o dia 11 de outubro da presidência do Senado. Procurado na noite de quinta-feira pelo presidente interino do Congresso, Tião Viana (PT-AC), e pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP), Sarney foi enfático ao afirmar que não deseja mais presidir coisa alguma. ¿Tenho 78 anos e estou cansado de ser atacado a vida inteira¿, respondeu Sarney, para rebater a insistência dos petistas, empenhados em convencê-lo de que o cargo pertence ao PMDB e o sucessor natural de Renan é ele.

O PMDB de Renan e Sarney, o Palácio do Planalto, o PT e mesmo a oposição não têm pressa em eleger o peemedebista que comandará o Senado. O governo e seus aliados apostam hoje que a eleição só ocorrerá no ano que vem, depois que os senadores votarem a emenda que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Mas o processo sucessório está em curso e, diante da negativa de Sarney, a alternativa mais forte para a presidência do Senado é o senador José Maranhão (PB). Tanto um dirigente do PMDB como um senador da cúpula do PT dizem que ele só não ocupará o cargo se não quiser.

Maranhão, porém, não corre sozinho. A novidade posta ontem como ¿opção de peso¿ no quadro sucessório do Senado é Edison Lobão (PMDB-MA). O nome do senador, ex-integrante do DEM, surge na esteira da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de anteontem, definindo que a regra da fidelidade partidária para os detentores de mandatos majoritários, como os senadores, só vale a partir de 16 de outubro. O tribunal entendeu que o mandato parlamentar pertence ao partido, não ao senador, mas Lobão ingressou no PMDB no dia 9 de outubro, uma semana antes do prazo fatal. Com isso, a sua filiação não poderá ser contestada e o mandato está garantido.

FESTA NA CHEGADA

Mesmo sendo ¿cristão novo¿ na bancada peemedebista, Lobão foi recebido com festa pelos 19 senadores do partido e conta com o apoio do grupo de Sarney, do qual faz parte há mais de 30 anos. A confiança do amigo e correligionário é capital político de grande relevância, uma vez que todos reconhecem em Sarney o grande eleitor do PMDB. A seu favor, pesa também a experiência de quem governou o Maranhão e já presidiu o Senado em tempos de crise, quando Jader Barbalho (PMDB-PA) licenciou-se do cargo. Lobão tem, ainda, o perfil do político que transita bem no governo e na oposição.

Seu nome é do agrado do Planalto, uma vez que, mesmo na oposição, Lobão ajudou o governo o quanto pôde. Por outro lado, ele deixou grandes amigos no DEM, já que nunca havia trocado de partido antes de se mudar para o PMDB.

Há, ainda,citações ao nome do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), que foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta semana. Depois de algumas incursões no grupo rebelde do PMDB, ele aproveitou para se reaproximar do Planalto, em meio à ofensiva do governo para aprovar a CPMF. Um interlocutor de Lula garante, porém, que sua eventual candidatura ao Senado nem foi mencionada na conversa. Na avaliação desse interlocutor, Garibaldi não tem a confiança do governo, nem tampouco a do PMDB ligado a Sarney e Renan, o que dificultaria muito sua eventual candidatura.