Título: Mensalão de Zeca do PT tinha dois deputados federais, diz promotoria
Autor: Macedo, Fausto; Naves, Joao
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2007, Nacional, p. A4

Citados são Vander Loubet, sobrinho do ex-governador, e Antônio Carlos Biffi, ambos da Comissão de Educação

Mais quatro deputados, dois estaduais e dois federais do PT de Mato Grosso do Sul, além de um ex-deputado da mesma legenda, aparecem no livro-caixa que o Ministério Público rotulou de mensalão do Zeca do PT, como é conhecido o ex-governador do Estado José Orcírio Miranda dos Santos (1999-2006).

Os nomes dos parlamentares foram divulgados ontem, em Campo Grande, pela força-tarefa formada por seis promotores de Justiça. O grupo investiga suposto esquema de corrupção, peculato e improbidade nos dois governos de Zeca do PT.

Um dos deputados federais citados é Vander Loubet, sobrinho do ex-governador e integrante da Comissão de Educação da Câmara. O outro é Antônio Carlos Biffi, titular da mesma comissão e ex-vice-líder do PT na Casa.

O livro-caixa indica que, entre agosto de 2004 e março de 2005, Loubet e Biffi teriam recebido R$ 25 mil mensais cada um. Os lançamentos mostram que Loubet pode ter recebido mais R$ 150 mil, em três parcelas, naquele período.

De acordo com as investigações do Ministério Público, João Grandão, ex-deputado do PT, teria ficado com R$ 100 mil. Ele já é acusado pela Procuradoria da República por envolvimento com a máfia dos sanguessugas - o esquema de desvio de recursos da União por meio de fraude em licitações para compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares para prefeituras com recursos de emendas ao Orçamento.

LEVANTAMENTO

Os deputados estaduais apontados no diário são Paulo Correia e Antonio Carlos Arroyo, ambos do PR. O Ministério Público está fazendo um levantamento sobre o total que os dois teriam recebido. Outro integrante da Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul também consta do livro: é Ary Artuzzi, do PMDB, conforme o Estado revelou ontem.

O documento, de capa preta, foi localizado na residência de Salete Terezinha de Luca, ex-ordenadora de despesa da Secretaria de Coordenação-Geral do Governo. Ela admitiu ter preenchido de punho próprio as 100 páginas do livro que a promotoria considera como prova da existência do mensalão de Zeca do PT.

Os promotores suspeitam que deputados, vereadores, secretários de Estado, presidentes de autarquias e servidores estaduais e municipais eram contemplados com verbas ¿por fora¿ - ou seja, desviadas de transações com dinheiro do Tesouro, principalmente da área de publicidade. A contrapartida, presume o Ministério Público, era o apoio dos políticos a projetos de interesse do ex-governador no Legislativo.

ORDEM

Salete de Luca era assessora do então secretário Raufi Antônio Jaccoud Marques (Coordenação-Geral). Ela declarou que fazia tudo o que era determinado por ele, inclusive as anotações no livro. ¿Apenas cumpri a ordem do meu chefe.¿ Afirmou que se limitava a copiar no livro dados repassados por Raufi.

Na semana passada, Salete deu dois depoimentos na promotoria. São 10 páginas de relato. Ela disse que não recebia nenhuma quantia para pagar parlamentares e autoridades. Os promotores a questionaram sobre os nomes da agenda, um a um, exceto os dos deputados federais, porque eles têm prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal (STF).

Salete disse que Alex, Almi, Ribeiro e Pérsio são vereadores em Campo Grande, os três primeiros do PT. O documento guarda nomes de funcionários do Diretório Estadual do PT em Mato Grosso do Sul.

LAUDO

Raufi Marques, ex-homem forte do governo Zeca do PT, será chamado para depor na investigação. No início de outubro, a promotoria o denunciou criminalmente à Justiça por peculato - desvio de recursos por meio de contratos fraudulentos com agências de propaganda, que faturaram R$ 122 milhões entre 2005 e 2006, dois últimos anos de Zeca do PT no governo.

A base da investigação é o depoimento de Ivanete Leite Martins, ex-assessora da Secretaria de Coordenação-Geral. Ela denunciou operações no setor de publicidade - as agências ficavam com 15% do valor contratado, a gráfica que providenciava notas frias embolsava comissão de 12% a 17% e o restante voltava para o caixa 2 do governo.

As revelações de Ivanete foram gravadas em áudio e vídeo pelo jornalista Adair Martins, proprietário do Diário do Pantanal. A entrevista durou 55 minutos e 50 segundos e foi degravada pela Polícia Federal. O laudo 1.325/07 contém todas as informações de Ivanete. Ela afirma que Zeca sabia do esquema.

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