Título: Para empresários brasileiros, relações deverão melhorar
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2007, Internacional, p. A14

Eles a consideram mais pragmática e menos protecionista que o marido

O empresariado brasileiro está contente com a vitória de Cristina Kirchner nas eleições presidenciais da Argentina. Para os empresários, além de menos ¿ideológica¿ que o marido, o presidente Néstor Kirchner, Cristina é mais simpática em relação ao Brasil. ¿Ela parece ter um pouco menos de ranço com o Brasil e é aparentemente mais simpática ao País do que Kirchner¿, afirma o diretor titular de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Roberto Gianetti da Fonseca. ¿Esperamos que essa impressão seja verdadeira.¿

Um bom indicador desse pragmatismo de Cristina foi a declaração de que a primeira viagem internacional será para o Brasil - e não para a Venezuela de Hugo Chávez ou para a Bolívia de Evo Morales. ¿Ela manifesta claramente a intenção de promover a integração¿, avalia o argentino Alberto Alzueta, presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo. ¿O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina, a Argentina é o segundo parceiro do Brasil, e a tendência é essa integração se intensificar.¿

Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a vitória de Cristina pode representar uma ¿mudança para melhor¿ na relação com o país vizinho. ¿Hoje a relação não é ruim, não existe atrito, mas Cristina é mais aberta, mais econômica e comercial e menos ideológica¿, afirma Castro. ¿Kirchner anda muito voltado para Chávez e Evo Morales, criando uma ideologia que começa a assustar.¿

As relações comerciais entre o Brasil e a Argentina vêm crescendo ano a ano e as históricas disputas, ao menos por hora, estão em baixa. A corrente de comércio (importação mais exportação) entre os dois país caminha para US$ 25 bilhões, ante US$ 20 bilhões no ano passado. De janeiro a agosto, o Brasil exportou US$ 9 bilhões e importou US$ 6,5 bilhões.

O superávit brasileiro está em queda e a expectativa é de que a balança volte a ficar favorável aos argentinos em 2008 ou 2009. ¿As exportações brasileiras estão crescendo 19% este ano e as importações, 31,3¿%¿, explica José Augusto de Castro, da AEB. ¿Quando virar um déficit para o Brasil, será mais um indicador que aliviará politicamente para os argentinos.¿

Para Gianetti da Fonseca, apesar de sinalizar que dará continuidade às políticas do marido, Cristina, por ser menos conservadora e menos protecionista, deverá contribuir positivamente para o ambiente de negócios no país vizinho. ¿Está na hora de o argentino investir em produção, em modernização, em vez de ficar reclamando da presença do investidor brasileiro.¿

O presidente da câmara comercial minimiza as reclamações do lado argentino. ¿São reclamações de empresas competidoras, não do governo¿, diz Alberto Alzueta. ¿Acho que se tentou vender uma figura de Kirchner como pouco simpático ao Brasil, mas isso não é verdade. Os US$ 7 bilhões de investimentos realizados pelo Brasil na Argentina nos últimos três a quatro anos foram recebidos de braços abertos.¿

Para Alzueta, outro sinal de que não houve cerceamento ao Brasil durante a era Kirchner é o fato de que a balança, que durante muitos anos foi favorável à Argentina, passou a ser favorável ao Brasil justamente em seu governo.

MOEDA LOCAL

Independentemente de Cristina, as relações comerciais deverão intensificar-se ainda mais a partir do primeiro semestre do ano que vem, quando entra em vigor a medida que permite o pagamento das importações em moeda local. Isso significa que o empresário brasileiro poderá exportar sua mercadoria e receber o pagamento em reais, enquanto o argentino fará o pagamento em pesos. A arbitragem será feita pelos bancos centrais. ¿A medida dispensa contratos de câmbio e as incertezas da moeda, permitindo a inserção de um grande universo de pequenas e médias empresas no comércio exterior¿, explica Alzueta.

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