Título: Ministério de Cristina será parecido com atual
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2007, Internacional, p. A14
Mercado financeiro argentino acredita que presidente eleita será mais `amigável¿ com o empresariado do que tem sido o governo do marido
Buenos Aires - A política econômica que a presidente eleita da Argentina, Cristina Kirchner, adotará a partir de 10 de dezembro será basicamente a mesma que seu marido, Néstor Kirchner, aplicou desde 2003, segundo analistas consultados pelo Estado. O modelo kirchnerista de dólar alto para favorecer as exportações, taxas de juros baixas e superávit fiscal permanecerá. No entanto, de acordo com os especialistas, deve passar por uma recauchutagem. Para realizar a tarefa, Cristina deve manter praticamente a mesma equipe de ministros.
Os rumores no âmbito político indicam que o ministro da Economia Miguel Peirano continuará no posto. O chanceler Jorge Taiana, um ¿ultracristinista¿, também fica.
Os analistas consideram que Cristina será market-friendly (amigável com os mercados), ao contrário do marido. Por isso, a grande expectativa é a de que se integre ao governo o ex-presidente do Banco Central Mario Blejer, ex-diretor do FMI e atual diretor do Banco da Inglaterra. Segundo Héctor Scaserra, presidente da corretora Sociedade Arpenta, essa designação seria ¿música para os ouvidos dos investidores¿.
Os mercados esperam que Cristina retome o diálogo com o FMI, de forma a conseguir um acordo com o Clube de Paris, organismo ao qual a Argentina deve US$ 6,2 bilhões. O acordo removeria obstáculos para que novos investimentos, especialmente europeus, chegassem ao país.
Entre o empresariado a expectativa é a de que Cristina realize ¿correções¿ em alguns ¿desvios naturais¿ no rumo da política econômica de Kirchner. Ou seja, esperam que Cristina libere as tarifas dos serviços públicos privatizados, congeladas desde janeiro de 2002. A liberação começaria em janeiro. Mas a alta das tarifas seria aplicada às classes alta e média, poupando os setores mais pobres.
Os empresários também esperam que o governo tome medidas concretas para evitar uma nova crise energética. Mas, nesse setor não existiriam grandes planos, já que Cristina deve continuar investindo numa série de pequenas e médias termo-életricas que - segundo os especialistas - servem apenas como uma ¿band-aid¿ para a crise.
Na lista das tarefas, Cristina também terá de tomar medidas concretas para combater a inflação. Simultaneamente, terá de enfrentar exigências dos sindicatos, que reivindicam aumentos salariais de até 30% para 2008. Os empresários já deixaram claro que não aceitarão altas superiores a 15%.
BRASIL BEM-VINDO
Osvaldo Cornide, presidente da Confederação Argentina da Média Empresa (Came), que reúne 550 mil pequenas e médias empresas, afirmou ao Estado que as expectativas do empresariado com Cristina ¿são muito favoráveis¿. Cornide afirma que a relação com o Brasil ¿deve se aprofundar¿. ¿Os laços com o Brasil são muito convenientes. Há quem se preocupe com os investimentos brasileiros na Argentina. Eu discordo. Problema seria se fossem investimentos especulativos. No entanto, o capital brasileiro que aqui desembarca é para o setor produtivo. E eles são bem-vindos¿, diz.
O ex-vice-ministro da Economia Orlando Ferreres, diz que as relações com o Brasil e os outros vizinhos do Mercosul no governo de Cristina ¿devem ser melhores do que foram com Kirchner¿. Ferreres destaca que os investimentos brasileiros continuarão desembarcando na Argentina. Desde 2002, as empresas brasileiras investiram US$ 6,8 bilhões no país.
Alejandro Obando, diretor-geral da consultora Investigações Econômicas Setoriais (IES), afirmou que a relação com o Brasil ¿será muito parecida com a atual¿. Segundo ele, há uma integração cada vez maior entre os dois países, que tende a continuar.
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