Título: Mudanças na constituição do Copom
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2007, Economia, p. B2

O anúncio da mudança na diretoria do Banco Central (BC), medida que poderá ter efeitos sobre as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), surpreendeu o mercado na última sexta-feira. Com isso, o Copom volta a ter oito membros, ficando seu presidente, Henrique Meirelles, com o voto de Minerva, o que o fortalece e a linha por ele imprimida na condução da política monetária do País.

As mudanças na diretoria do BC têm sido mais rápidas do que no passado. Cerca de dez diretores saíram desde 2003, sempre ¿por razões pessoais¿, segundo a linguagem diplomática do BC. De um modo geral, os diretores do Copom têm sido escolhidos pelo próprio presidente do BC, sem ingerência política. O presidente Lula procura, assim, prestigiar Henrique Meirelles, reconhecendo indiretamente que o sucesso da sua política contra a inflação contribuiu para o prestígio do governo. A única vez em que parece ter havido ingerência política foi no caso do afastamento de Afonso Bevilacqua, considerado ultraconservador.

As três nomeações de sexta-feira passada reforçam o presidente do BC, num momento em que ele foi criticado dentro do governo petista por ter dado uma pausa no processo de flexibilização da política monetária. Os três - entre eles uma mulher, Maria Celina Berardinelli Arraes, para a diretoria de Assuntos Internacionais - foram buscados dentro do próprio BC.

Nos meios financeiros se comentou que a troca, com o afastamento de dois diretores, se deveu a uma divergência interna acerca da constituição de um fundo soberano, anunciado pelo ministro da Fazenda, sem que houvesse entre os membros do Copom um consenso sobre a oportunidade e a viabilidade da criação do fundo, dado que o Brasil ainda tem um déficit nominal nas contas públicas e nenhum produto esgotável tem peso importante na pauta das exportações, o que poderia justificar a criação de um fundo soberano.

Pode-se lamentar a saída de Paulo Vieira da Cunha, que tinha um papel importante na formulação da política monetária, mas nada permite imaginar uma mudança brusca na orientação dessa política nos próximos meses. O problema é saber quanto durará a pausa decidida na última reunião do Copom, partindo do princípio de que ¿pausa¿ subentende uma retomada do processo de redução da Selic, especialmente quando se vê que as instituições financeiras aproveitaram essa decisão para voltar a aumentar suas taxas de juros.