Título: Lobby sindical avança no Senado
Autor: Paula Scinocca, Ana
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2007, Nacional, p. A7
Três relatores se unem para ressuscitar obrigatoriedade de contribuição, que foi derrubada na Câmara
O lobby pela manutenção da cobrança do imposto sindical ganhou terreno no Senado. Paulo Paim (PT-RS), relator do projeto na Comissão de Assuntos Sociais, avisou: ¿Não vamos aceitar uma única vírgula que prejudique a organização dos trabalhadores.¿ Ele e os senadores Lúcia Vânia (PSDB-GO) e Francisco Dornelles (PP-RJ), respectivamente relatores do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), prometeram fazer um relatório conjunto e ¿em defesa dos trabalhadores¿, ressuscitando a obrigatoriedade da cobrança do imposto sindical.
A expectativa é que o relatório seja votado na próxima quarta-feira em conjunto nas três comissões. Depois, o projeto seguirá para o plenário do Senado. ¿Vamos trabalhar em conjunto. Trabalhar para fazer uma proposta o mais democrática possível. E vamos ter um bom resultado¿, confirmou Lúcia Vânia na audiência pública sobre o tema ontem. Ela foi aplaudida pelos sindicalistas presentes.
O tom todo da audiência estava mais para uma assembléia de trabalhadores. O clima de sindicato foi tamanho que chegou ao ponto de Paim, presidente da sessão e ex-sindicalista, chamar o evento de ¿assembléia¿ e se dirigir aos presentes, em seu discurso, como ¿meus amigos¿. Durante as mais de 3 horas de debate sobre o projeto que prevê o fim da obrigatoriedade do imposto sindical, sindicalistas lotaram o auditório Petrônio Portella, que tem 499 lugares, no Senado em plena véspera do feriado de Finados.
Usando o poderio que têm no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também ex-sindicalista, as centrais sindicais não se constrangeram em fazer lobby entre os senadores para tentar manter a contribuição, revertendo a decisão da Câmara. No dia 17, os deputados aprovaram a emenda do colega Augusto Carvalho (PPS-DF), que prevê o fim da obrigatoriedade da contribuição.
UNIÃO
A audiência pública mostrou uma união jamais vista entre as centrais. Força Sindical e Central Única dos Trabalhadores (CUT), que muitas vezes se enfrentaram, ontem estavam do mesmo lado: ambas contra o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical. E foi assim com os representantes de várias outras agremiações e sindicatos de classe.
Apenas o deputado Augusto Carvalho e um tímido grupo de 20 servidores federais que apóiam sua emenda tentaram, sem sucesso, mostrar aos sindicalistas que a obrigatoriedade do imposto é ¿ilegítima¿. Atualmente, a contribuição é descontada de forma automática do salário do trabalhador uma vez por ano. O valor equivale a um dia de trabalho.
¿Esse imposto é ilegítimo. Os sindicalistas precisam dele para meter a mão no bolso do trabalhador. O imposto é uma excrescência¿, afirmou Carvalho. Ele foi hostilizado e chamado de ¿inimigo do trabalhador¿, ¿farsante¿ e ¿traidor¿ pelos sindicalistas, que exibiram um cartaz contra a posição do deputado.
Presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), que passou os últimos dias fazendo lobby entre aos senadores para derrubar o projeto, fez discurso de terrorismo. Ele afirmou que retirar a obrigatoriedade da contribuição é um primeiro passo para acabar com outros direitos dos trabalhadores, como as férias e a licença-maternidade. ¿Querem tirar da gente as conquistas que muitos de nós morreram defendendo¿, afirmou.
Francisco Canindé Pegado, presidente da UGT, foi outro que se mostrava certo de que as centrais conseguirão reverter a decisão da Câmara. ¿Não tenho dúvidas que nós vamos impor aqui no Senado a derrubada da emenda¿, afirmou.
A CUT, antes contrária à obrigatoriedade do imposto, mandou sua secretária nacional de organização, Denise Motta Dau, para o evento. No discurso, ela deixou clara a nova posição da entidade. ¿Retirar a contribuição sem que haja um período de transição é acabar com os sindicatos¿, disse Denise.
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