Título: Falta de gás já afeta produção em São Paulo
Autor: Brito, Agnaldo; Vialli, Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/11/2007, Economia, p. B5

Pólo cerâmico no interior paulista não poderá crescer; Fiesp diz que situação pode levar a colapso em 2008

O pólo ceramista de Santa Gertrudes (SP), maior produtor de revestimento cerâmico do País, foi informado esta semana que não terá gás natural para sustentar o plano de expansão. Três cerâmicas que haviam investido em novos fornos e assinado contratos de demanda de gás natural com a Comgás foram informadas esta semana que o fornecimento será suspenso por falta do insumo. As cerâmicas Lume, de Limeira, Cecafi e Incefra, de Cordeirópolis, foram informadas esta semana que a oferta de gás suplementar será cortada.

¿Investimos R$ 15 milhões na montagem do quinto forno. Havia um plano de produção para pagar essa expansão que foi totalmente comprometido. Os contratos para o mercado interno e externo terão agora que ser renegociados¿, disse Marco Diehl, gerente da Incefra, cerâmica de Cordeirópolis. A empresa foi informada que terá de reduzir o consumo em 20%. A capacidade de produção, hoje de 2 milhões de metros quadrados por mês, deverá ser cortada entre 300 mil a 500 mil m².

A empresa tinha um ¿contrato não garantido¿ de fornecimento de gás natural. ¿Apostamos no crescimento do setor. Apostamos que haveria gás para expandir a fábrica¿, lamenta. A empresa pode ter sido ingênua em acreditar na oferta de gás, mas todo o setor ceramista migrou para o consumo do combustível em substituição ao GLP e ao óleo combustível. ¿É inacreditável que agora, depois que todo o setor apostou nesse insumo, venham nos dizer que não podemos crescer¿, disse João Oscar Bergstron, presidente da Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento (Aspacer).

O ciclo de investimento na construção civil provocou uma aceleração da demanda de revestimentos cerâmicos, que já observava crescimentos por causa da exportação. O crescimento do pólo paulista supera os 10% ao ano. A região é responsável por 65% da cerâmica produzida no País, cerca de 420 milhões de metros quadrados por ano. Cerca de 100 milhões de metros são exportados.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) está ¿preocupada¿ com os desdobramentos dessa nova crise na oferta de gás natural. Acha que esses problemas pontuais podem se converter num ¿colapso¿ do abastecimento em 2008, quando até contratos firmes podem não ser honrados. A Secretaria Estadual de Energia e a Fiesp farão uma reunião de emergência na próxima segunda-feira. O objetivo é fazer um novo levantamento sobre toda a demanda de gás do Estado e observar qual o tamanho da oferta.

Segundo Saturnino Sérgio da Silva, diretor titular do Departamento de Infra-Estrutura da Fiesp, a Petrobrás terá de garantir a produção de duas fontes em 2008. ¿A Bacia do Espírito Santo terá de produzir os 24 milhões de metros cúbicos e os projetos de regaseificação do GNL (gás natural liquefeito) também terão de estar operando. Se isso não estiver disponível, em 2008 teremos um colapso.¿

A multinacional do setor químico Basf também está apreensiva em relação ao fornecimento para suas fábricas. Ao longo do mês de outubro, e empresa foi consultada, pela distribuidora Comgás , sobre a possibilidade de substituir parte de seu atual consumo de gás natural por algum combustível alternativo. ¿Essa opção existe, mas para fazer isso precisamos de preparação técnica e tempo para regularizar essa situação junto aos órgãos ambientais, o que levaria no mínimo três meses¿, afirma Vagner Luiz Lourenço Correa, gerente de infra-estrutura da Basf Brasil.

Após negociações com a distribuidora, a Basf conseguiu garantir seu fornecimento para as próximas semanas, com base no acordo que a Comgás fez com sete grandes consumidores. No entanto, a empresa está atenta ao cenário de um possível desabastecimento. ¿O gás natural representa de 70% a 80% da fonte de energia usada nos processos de fabricação da Basf e, apesar de viáveis tecnicamente, as alternativas de combustíveis alternativos são mais poluentes e mais caras¿, diz Correa.

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