Título: Petrobrás afirma que não repassará alta do petróleo
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2007, Economia, p. B10

Gabrielli explica que a decisão não afeta as contas da companhia, pois o real está valorizado

Apesar da escalada do preço do petróleo, que se aproxima dos US$ 100 por barril, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, manteve ontem o discurso sobre a política de preços de longo prazo da companhia. 'Tem quatro anos e meio que temos dito sistematicamente que nossa política é manter uma relação entre os preços brasileiros e os internacionais só no longo prazo. Nós não vamos traduzir para o mercado brasileiro as flutuações de curto prazo que ocorrem no mercado internacional', afirmou.

Ontem, em Nova York, o barril do petróleo fechou em US$ 91,86, novo recorde. Segundo analistas, o mercado está pressionado pelo recrudescimento da tensão entre Turquia e rebeldes curdos no norte do Iraque. Já são comuns as previsões de que o barril possa atingir os US$ 100 este ano, caso o cenário geopolítico se mantenha. 'Isso não é impossível', comentou ontem o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa.

Gabrielli lembrou que a última vez que a companhia reajustou os preços da gasolina e do diesel foi em novembro de 2005. Mas, segundo ele, a falta de repasses não afeta as contas da companhia, pois o real se valorizou em relação ao dólar.

No início do mês, porém, a indústria petroquímica e as companhias aéreas devem sentir o impacto da alta. A política da Petrobrás prevê a atualização mensal dos preços da nafta petroquímica, do querosene de aviação e do óleo combustível.

Gabrielli falou ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após visita à usina experimental de produção de etanol a partir de bagaço de cana e resíduos agrícolas do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobrás (Cenpes). 'Eu acho que será a revolução energética do futuro', afirmou Lula.

Insumos industriais e agrícolas atrelados ao petróleo também deverão ser afetados pela alta. O preço da nafta, principal matéria-prima da indústria petroquímica, subiu 15% em um ano. No setor agrícola, a tonelada de uréia, produzida a partir do gás natural, já vale US$ 380, ante US$ 225 há um ano. O preço de gás natural também pode ser alcançado pela alta.

'Daqui a algum tempo nós estaremos preparados para apresentar à iniciativa privada e ao mundo uma nova matriz de combustível, onde, na minha opinião, o Brasil será imbatível.' Segundo a Petrobrás, a unidade vai permitir a produção de até 280 litros de etanol por tonelada de bagaço de cana.

A empresa, porém, evita comentar quando a tecnologia poderá ser usada em escala comercial. Além do bagaço de cana, a estatal estuda a produção de etanol a partir de torta de mamona, palha e outras gramíneas. A pesquisa sobre a produção de álcool combustível a partir de resíduos é foco também em outras grandes companhias do setor como a anglo-holandesa Shell e a britânica BP. ]

COLABOROU AGNALDO BRITO

FRASES

José Sérgio Gabrielli Presidente da Petrobrás 'Nós não vamos traduzir para o mercado brasileiro as flutuações (de preço do petróleo) de curto prazo que ocorrem no mercado internacional'

Luiz Inácio Lula da Silva Presidente

'Daqui a algum tempo nós estaremos preparados para apresentar ao mundo uma nova matriz de combustível'