Título: Anvisa atesta acidez de leite suspeito
Autor: Salvador, Fabíola
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2007, Vida&, p. A38

Agência não descarta recolher mais lotes e garante que produto não oferece risco à saúde dos consumidores

A diretora da área de alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Maria Cecília Brito, confirmou ontem, em Brasília, a retirada preventiva do mercado de nove lotes de leite integral tipo longa-vida fornecidos pelas empresas Calu, Parmalat e Centenário. Na terça-feira, 27 pessoas foram presas durante a Operação Ouro Branco, deflagrada pela Polícia Federal (PF) para investigar cooperativas acusadas de adicionar produtos químicos ao leite. Cinco continuam presas.

A decisão da Anvisa foi tomada depois que laudos da PF mostraram contaminação de leite das três empresas adquiridos de cooperativas de Minas Gerais. A Anvisa não descarta a possibilidade de determinar o recolhimento de outros lotes após análise laboratorial.

Segundo a perícia da PF, foram detectadas alterações em relação aos padrões de identidade e qualidade definidos pelo Ministério da Agricultura, como o nível de acidez e alcalinidade do produto. Esse último item pode significar, segundo Maria Cecília, a mistura irregular de produtos químicos.

Náuseas e vômitos, ou seja, pequenas intoxicações, são os principais riscos para quem consumir o leite adulterado que será recolhido pela Anvisa. ¿Se a população tiver leite desses lotes, a orientação é para não consumi-lo¿, alertou a diretora. No entanto, ela afirmou que a ingestão não representa risco iminente à saúde.

A diretora da Anvisa explicou que o uso da soda cáustica, um dos produtos que teriam sido misturados ao leite, é permitido no processo de limpeza dos equipamentos. ¿As boas práticas servem para eliminar todos os resíduos¿, lembrou.

Testes estão sendo feitos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), laboratório de saúde pública de Minas Gerais, para comprovar o nível de adulteração dos produtos cujos lotes foram interditados anteontem pela Anvisa. Os laudos devem estar disponíveis num prazo de 15 dias. As empresas investigadas poderão recorrer da decisão. A expectativa é que as fases do processo sejam concluídas em 90 dias.

Se os testes comprovarem irregularidades, a Anvisa poderá interditar o produto e o estabelecimento, além da aplicar multas de até R$ 1,5 milhão.

De acordo com a Parmalat, os produtos recolhidos pela Anvisa são de lotes fora de circulação, pois seus prazos de validade já haviam expirado. Em nota, a empresa garante que os produtos que estão nas prateleiras dos supermercados não pertencem aos nove lotes e não têm nenhuma restrição de consumo. A empresa também ressaltou que apenas 200 litros de leite foram interditados, de um total de 40 milhões produzidos mensalmente.

A Cooperativa Agropecuária de Uberlândia (Calu), que também teve lotes des seus produtos recolhidos pela Anvisa, informou que ¿iniciou desde a última quarta-feira o recolhimento dos três lotes do leite longa-vida considerados fora dos padrões nas análises solicitadas pelo Ministério Público¿. Os lotes correspondem a 50,4 mil litros de leite.

A Assessoria de Imprensa do Ministério da Agricultura não confirmou nem desmentiu a informação de que o governo intensificará a fiscalização nas fábricas de leite do País a partir de segunda-feira.

CAÇA ÀS BRUXAS

Enquanto isso, ações de fiscalização foram promovidas em várias cidades ontem por órgãos de defesa do consumidor e de vigilância. A Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, começou a vistoriar supermercados da cidade. Até as 20 horas, não havia balanço da operação.

Denúncias e falhas levaram o Procon de Goiás a testar 19 marcas de leite tipo C. Doze foram reprovadas por conter, nas embalagens do tipo ¿saquinho¿, bactérias, coliformes fecais, soda cáustica, amido e água oxigenada.

Além disso, 6 entre 24 marcas de leite longa-vida verificadas pelo órgão também não passaram nos testes - pelos mesmos motivos. O Procon multou as empresas e protocolou denúncias nos Ministérios Públicos Estadual (MPE) e Federal (MPF).

Agentes da Vigilância Sanitária de Sorocaba vão começar a recolher pessoalmente, a partir de segunda-feira, os nove lotes de leite das marcas Calu, Parmalat e Centenário interditados pela Anvisa.

De acordo com a diretora de Saúde Coletiva, Eliana de Paula Leite, a inspeção dos hipermercados, supermercados e distribuidoras de leite da cidade visa a evitar alarme ou problemas em relação a lotes das mesmas marcas que estão liberados para consumo.

COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA

LOTES INTERDITADOS PREVENTIVAMENTE DE LEITE UHT INTEGRAL

CALU: Leite tipo integral, lote 4G, fabricado em 03/08/2007 e com data de vencimento 03/12/2007

CALU: Leite tipo integral, lote 4K, fabricado em 07/07/2007 e com data de vencimento 07/11/2007

CALU: Leite tipo integral, lote 4W, fabricado em 26/07/2007 e válido até 26/11/2007

PARMALAT: Leite tipo integral, lote LCZI, fabricado às 06:23 de 22/06/2007 e válido até 22/10/2007

PARMALAT: Leite tipo integral, lote não determinado, fabricado em 24/06/2007 e válido até 24/10/2007

PARMALAT: Leite tipo integral, lote LCZL01, fabricado às 12:42 de 22/06/2007 e válido até 22/10/2007

CENTENÁRIO: Leite tipo integral, lote 1, fabricado em 25/07/2007 e válido até 30/12/2007

CENTENÁRIO: Leite integral, lote 1, fabricado em 04/08/2007 e válido até 08/01/2008

CENTENÁRIO: Leite tipo integral, lote 2, fabricado em 28/07/2007 e válido 02/01/2008